"Tenho sido duramente atacado, inúmeras vezes, pelo crime de dizer a verdade. Não entendem os meus detratores que quando eu aponto o que acho errado no
Brasil, estou simplesmente colaborando para que se corrijam os erros e se transforme a nossa Pátria na Terra Ideal com que todos nós, os seus filhos,
ansiamos de todo o coração. Aliás, não admito que ninguém seja mais Brasileiro, mais Patriota do que eu. Honro-me de ser um artista feito exclusivamente
no Brasil, onde estudei e onde me fiz, não tendo mesmo nem sequer me aperfeiçoado no estrangeiro, como é hábito entre nós. Por isso, os sucessos, ou melhor,
as vitórias que porventura tenho conseguido, são sucessos do Brasil, vitórias integralmente nossas, que me dão mais e mais força para apontar os erros
comuns em nossa terra."
A citação de Heitor Villa-Lobos acima foi publicada na "Gazeta de São Paulo" no dia 18/01/1948 e está presente na página 174 do livro de Anna Stella Schic
"Villa-Lobos - O Índio Branco" e também na página 97 do livro de Maria Celia Machado "Heitor Villa-Lobos".
"O Brasil já tem uma forma geográfica de um coração. Todo Brasileiro tem esse coração. A
Música vai de uma Alma à outra. Os pássaros conversam pela Música; eles têm coração. Tudo o que
se sente na vida se sente no coração. O coração é o metrônomo da vida. E há muita gente na
Humanidade que se esquece disso. Justamente o que mais precisa a Humanidade é de um metrônomo.
Se houvesse alguém no mundo que pudesse colocar um metrônomo no 'cimo da Terra', talvez
estivéssemos mais próximo da Paz. Por que se desentendem, vivem descompassados Raças e Povos?
Porque não se lembram do metrônomo que guardam no peito: o coração. Foi fadado por Deus
justamente no Brasil possuir uma forma geométrica de coração e haver um ritmo palpitante em
toda a sua Raça..."
Citado por Heitor Villa-Lobos num Discurso em João Pessoa-PB no ano de 1951 (Citado também na página 92 do livro de Maria Celia Machado "Heitor Villa-Lobos").
"Nunca na minha vida procurei a Cultura, a Erudição, o Saber; e mesmo a Sabedoria nos
Livros, nas Doutrinas, nas Teorias, das Formas Ortodoxas... Nunca! Porque o meu Livro era o
Brasil. Não o Mapa do Brasil na minha frente, mas a Terra do Brasil, onde eu piso, onde eu
sinto, onde eu ando, onde eu percorro...."
Citado por Villa-Lobos no mesmo Discurso em João Pessoa-PB em 1951 (Citado também na página 93 do livro de Maria Celia Machado "Heitor Villa-Lobos").
Esse excelente Compositor Brasileiro valorizou, como pouquíssimos Músicos no Mundo, a Música Folclórica de seu País Natal.
Isso se torna ainda mais notável principalmente quando se leva em conta que naquele tempo as Viagens eram bem mais
demoradas (além de não existirem estradas pavimentadas, Santos Dumont mal havia acabado de inventar o Avião) e levando-se em
conta também a imensa extensão territorial desse país chamado Brasil!!
Compositor Erudito e também Popular! Notável também no Chorinho e na Música Folclórica, inclusive a Música Caipira que
ele soube captar na Alma do Povo do Sertão Brasileiro!
Heitor Villa-Lobos nasceu (de 7 meses) numa casa na Rua Ipiranga, no bairro Laranjeiras, no Rio de Janeiro-RJ, no dia
05/03/1887.
Filho de Noêmia Umbelina Santos Monteiro (foto à direita) e de Raul Villa-Lobos (foto à esquerda), que era
Funcionário da Biblioteca Nacional e também Violoncelista Amador, além de ter sido também autor de livros didáticos e de um Guia Turístico para o
Rio de Janeiro-RJ. Heitor foi o único dos oito filhos do casal que veio a despertar Vocação para a Música.
A Influência Musical que viria selar o destino de Villa-Lobos e marcar a História Musical Brasileira começou bem cedo, ainda na infância, quando o menino
tinha, no ambiente familiar, o apelido de Tuhu: seu avô materno (Santos Monteiro) era boêmio e freqüentava festas juntamentente com diversos Músicos
Populares e, ao que consta, foi ele o Compositor de "Quadrilha das Moças" (Santos Monteiro).
A família mudava de endereço com muita freqüência e, dessa forma, além da Cidade Maravilhosa, durante a infância, Heitor
Villa-Lobos também chegou a morar com os familiares em Sapucaia-RJ, Cataguazes-MG e Bicas-MG entre 1892 e 1893. Nessas
Cidades do Interior dos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais ele teve contato com as Modas que eram tocadas na Viola
Caipira. Sem dúvida, um pouquinho do Riquíssimo Folclore Musical Brasileiro com o qual Villa-Lobos vinha se familiarizando
e que, com o tempo, veio a fazer parte de sua belíssima Obra Musical.
De volta ao Rio de Janeiro-RJ, a família Villa-Lobos fez de sua casa um ponto de encontro de Músicos respeitados na época,
os quais se reuniam aos Sábados, avançando madrugada a dentro com a Boa Música. Esses Encontros Musicais também foram
importantes para o desenvolvimento musical de Heitor que iniciou seus estudos musicais com apenas 6 anos de idade.
Seu pai Raul ensinou-o a tocar Clarinete e Violoncelo. O Instrumento de Cordas se originou de uma Viola especialmente
adaptada, já que o Violoncelo era grande demais para uma criança nessa idade. Lembrar que essa Viola não era a Tradicional
Viola Caipira, mas sim, a Viola que faz parte da Orquestra Sinfônica, com 4 Cordas, tocada com Arco e pouco maior que o
Violino.
Raul Villa-Lobos também exigia de Heitor uma rígida disciplina à base de exigentes exercícios de Percepção Musical. Conta-se que ele chegou a amarrar o
jovem Heitor ao pé da mesa para poder assegurar sua continuidade nos deveres de seu Estudo Musical.
"Meu pai, além de ser um homem de aprimorada Cultura Geral e excepcionalmente inteligente, era um Músico prático, técnico e perfeito (...) Com ele,
assistia sempre a Ensaios, Concertos e Óperas. Aprendi também a tocar Clarinete e era obrigado a discernir o gênero, estilo, caráter e origem das Obras,
além de declarar com presteza o nome da nota, dos sons ou ruídos que surgiam incidentalmente no momento, como por exemplo, o guincho da roda de um bonde,
o pio de um pássaro, a queda de um objeto de metal, etc. Pobre de mim quando não acertava..." (Citado na página 14 do excelente livro "Villa-Lobos -
Uma Introdução" de Luiz Paulo Horta - Jorge Zahar Editor - Rio de Janeiro-RJ - 1987).
Foi também por essa época que sua tia Zizinha lhe mostrou os Prelúdios e Fugas do "Cravo Bem Temperado" de Johann Sebastian
Bach, cuja Obra Musical fascinou o jovem Heitor! Esse grande Compositor Alemão exerceu marcante influência num dos mais
importantes conjuntos de Obras de Villa-Lobos que foram as 9 Bachianas Brasileiras!
A Música tocada fora de casa também influenciou Heitor Villa-Lobos, já que ele foi atraído pelo "Choro" (ou "Chorinho")
que os "Chorões" reunidos executavam por puro prazer nas ruas e praças do Rio de Janeiro-RJ, além de festas e também
durante o Carnaval! Tal fascínio por esse belíssimo Gênero Musical fez com que o jovem Heitor estudasse Violão escondido
de seus pais, já que a família não aprovava o contato com tais Músicos que eram discriminados e chegavam a ser considerados
como "marginais".
Dentre os Músicos com os quais Villa-Lobos tinha contato, podemos citar Eduardo das Neves, Ernesto Nazareth, Anacleto de
Medeiros e
Catulo da Paixão Cearense!
Tal influência levou Villa-Lobos a compor, a partir da década de 1920, um ciclo de 17 Obras para diversas instrumentações
diferentes, intituladas "Choros"; nasceu então uma nova Forma Musical, inédita até então na Música Erudita, e onde
tal gênero de Música Urbana se mesclou às modernas técnicas de Composição. Villa-Lobos afinal considerava esse ritmo como
sendo "a Essência Musical da Alma Brasileira"!
A título de curiosidade, segue abaixo a relação de todos os "Choros" compostos por Heitor Villa-Lobos:
Introdução Aos Choros para Violão e Orquestra (1929)
Choro Típico Nº 1 (Chora Violão) para Violão-Solo (1920)
Choros Nº 2 para Flauta e Clarinete (1924)
Choros Nº 2 Transcrito para Piano (1924)
Choros Nº 3 (Picapau) para Coro Masculino e Septeto de Sopros (1925)
Choros Nº 4 para Três Trompas e Trombone (1926)
Choros Nº 5 (Alma Brasileira) para Piano-Solo (1925)
Choros Nº 6 para Orquestra Completa (1926)
Choros Nº 7 (Settimino) para Septeto de Sopros e Cordas (1924)
Choros Nº 8 para Orquestra e Dois Pianos (1925)
Choros Nº 9 para Orquestra (1929)
Choros Nº 10 (Rasga o Coração) para Coro e Orquestra (1926)
Choros Nº 11 para Piano e Orquestra (1928)
Choros Nº 12 para Orquestra (1925)
Choros Nº 13 para Duas Orquestras e Banda Sinfônica (1929)
Choros Nº 14 para Orquestra, Banda Sinfônica e Coro (1928)
Dois Choros Bis para Violino e Violoncelo (1928 - 1929)
A ordem em que as Músicas de Villa-Lobos são numeradas nem sempre segue a ordem cronológica na qual as mesmas foram compostas, como podemos observar,
por exemplo, no "Choros N° 10 (Rasga o Coração)", composto em 1926, e no "Choros N° 9", composto em 1929. O mesmo acontece também em outros conjuntos de
Obras, como é o caso das Bachianas Brasileiras. Essa "numeração não cronológica" é também uma característica própria do Compositor.
Os Dois Choros Bis para Violino e Violoncelo, compostos entre 1928 e 1929 formam na verdade uma única peça musical.
O Septeto de Sopros do Choros Nº 3 (Picapau) é formado por Clarinete, Sax-Alto, Fagote, Trombone e Três Trompas.
E a Instrumentação do Choros Nº 7 (Settimino) é formada por Flauta, Oboé, Sax-Alto, Clarinete, Fagote, Violino, Violoncelo e
Tam-Tam.
Lamentavelmente, as partituras dos "Choros Nº 13" e dos "Choros Nº 14" foram perdidas.
E, apesar de fazerem parte do conjunto, a "Introdução aos Choros" e os "Dois Choros Bis" não são numerados como os
outros 14; os mesmos são classificados como "extra-série".
O "Choros Nº 10" é um dos mais belos e também ricamente instrumentado, sendo também o mais aclamado de todos. O mesmo foi
escrito para Coro e Orquestra e é concluído num grande "Samba-Enredo Sinfônico", tendo, num Contra-Ponto, a melodia da canção
"Rasga o Coração" (Anacleto de Medeiros - Catullo da Paixão Cearense) (a qual foi gravada na época pelo Vicente Celestino),
além de um acompanhamento coral bem ritmado com "onomatopéias" supostamente indígenas (na verdade, "inventadas" pelo
próprio Villa-Lobos) e o emprego de uma riquíssima Percussão marcada revezadamente por Ganzá, Tamborim, Reco-Reco e Cuíca,
além de Instrumentos de Percussão similares aos das Escolas de Samba.
Importante ressaltar que Anacleto de Medeiros compôs originalmente e Melodia do Schottish "Yara", a qual recebeu letra do Poeta
Catulo da Paixão Cearense,
passando a ter o nome "Rasga o Coração".
Quero aqui destacar o excelente CD "Os Choros de Câmara de Villa-Lobos" lançado pela
Kuarup Discos:
trata-se da primeira gravação completa da série dos Choros para Formação de Câmara. A gravação teve lugar no Rio de
Janeiro a cargo de excelentes Músicos do quilate do Maestro Mario Tavares, além de Sérgio Assad (Violão), Paulo Moura
(Sax-Alto), Murilo Santos (Piano), Carlos Rato (Flauta), José Botelho (Clarinete), Noel Devos (Fagote), Jessé Sadoc
(Trombone), Sdenek Svab (Trompa), Thomas Tritle (Trompa), Carlos Gomes (Trompa), Kleber Veiga (Oboé), Giancarlo Pareschi
(Violino), Watson Clis (Violoncelo) e Hugo Tagnin (Tam-Tam), além do Coro Masculino da Associação de Canto Coral, sob a
regência da Maestrina Cleofe Person de Matos.
Lamentavelmente, a
Kuarup Discos
se viu obrigada a encerrar suas atividades, no início de 2009 (coincidentemente, no ano do cinqüentenário do falecimento de Villa-Lobos...),
após mais de 30 anos de Excelente Atividade... Resta-nos a esperança de que esse Acervo Musical não seja perdido e que os respectivos CD's e DVD's
sejam adquiridos por outra Gravadora/Produtora o mais breve possível, retornando assim aos catálogos de vendas...
Quero destacar também o excelente CD "Heitor Villa-Lobos Rege Choros Nº 6 e Bachianas Brasileiras Nº 7" lançado pela inesquecível gravadora
Kuarup:
trata-se da primeira gravação profissional do próprio Heitor Villa-Lobos como regente, num CD remasterizado inédito no
Brasil. Gravado na Alemanha em Janeiro de 1954, esse registro faz parte de uma pequena coleção de gravações deixadas pelo
Maestro Villa-Lobos, à frente da Orquestra RIAS da Rádio do Setor Americano de Berlim. Nesse CD, o Apreciador é brindado
com duas das mais importantes Obras Sinfônicas de Villa-Lobos: Choros Nº 6 e Bachianas Brasileiras Nº 7. Excelente
remasterização a cargo de Luigi Hoffer.
Quero destacar também o excelente CD "Heitor Villa-Lobos - Choros Nº 8 & 9" produzido originalmente pela Marco Polo e lançado no Brasil pela
Movieplay,
contendo "Choros N° 8 para Orquestra e Dois Pianos" e "Choros N° 9 para Orquestra", com Kenneth Schermerhorn regendo a Orquestra Filarmônica de
Hong Kong. Trata-se de um CD "imperdível" e, para nossa felicidade, disponível no Brasil a preço bastante acessível, juntamente com outros CD's de Música
Erudita, incluindo também outros CD's com Músicas de Heitor Villa-Lobos, tais como os CD's 8.223357, 8.223720 e 8.223552 com diversas excelentes Obras
Orquestrais do Compositor Brasileiro, tais como a "Sinfonia N° 6 (Sobre a Linha das Montanhas do Brasil)", "Danças Características Africanas", "Rudepoema",
"Erosão", "Amazonas" e "Alvorada na Floresta Tropical", interpretadas pela Slovak Radio Symphony Orchestra (Bratislava) (sob a Regência de Roberto Duarte).
Quero aqui destacar também o excelente CD "Violão Sinfônico", lançado pela
ROB Digital,
no qual o excelente Turíbio Santos, acompanhado pela Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro-RJ, apresenta ao Apreciador em Primeira
Gravação Mundial a "Introdução Aos Choros" para Violão e Orquestra, Obra que Heitor Villa-Lobos compôs em 1929 e que, como o próprio nome diz, é destinada a
preceder a série monumental dos 17 "Choros", a qual se inicia com o "Choro Típico N° 1 (Chora Violão)", gravação que vem logo depois no mesmo CD, interpretada
também pelo Turíbio Santos. Ao final de "Introdução Aos Choros", a Orquestra anuncia as quatro primeiras notas que serão ouvidas no início do "Choro Típico
N° 1 (Chora Violão)", dando uma belíssima idéia de "continuidade" (pena que não temos mais os "Choros" N°s 13 e 14 cujas partituras foram perdidas, conforme
mencionado logo acima).
O CD também nos brinda com o "Concerto Para Violão e Pequena Orquestra" (Villa-Lobos), a "Suíte Concertante" (Edino Krieger), "Retratos Brasileiros"
(Sérgio Barboza) e "O Mundo É Grande (Poema-Concerto para Violão e Orquestra)" (Sérgio Barboza) (em homenagem ao Centenário de Carlos Drummond de Andrade).
O pai do jovem Músico, Raul Villa-Lobos, faleceu prematuramente em 1899, vítima de varíola, com apenas 37 anos de idade. Heitor tinha apenas 12 anos.
Nesse mesmo ano, Villa-Lobos compôs a cançoneta "Os Sedutores".
Com o falecimento de Raul, a família se deparou com dificuldades econômicas e Dona Noêmia passou a trabalhar como Lavadeira e Passadeira para poder
sustentar o Lar. Ela também queria que o filho estudasse Medicina... Mas a Paixão de Heitor pela Música era realmente intensa e o jovem
Heitor já tocava Violão em rodas e Conjuntos Instrumentais populares (inclusive os já mencionados "Chorões" nas Ruas da Cidade Maravilhosa!).
É importante ser lembrado que na época, o Violão era desprezado e perseguido, "sinônimo de malandragem" e, conforme citado
no resumo biográfico de
Catulo da Paixão Cearense,
foi por essa época que o Belíssimo Instrumento Musical de Seis Cordas foi adquirindo prestígio nos "Salões da Elite". Também
não podemos nos esquecer do excelente Dilermando Reis que popularizou o tão célebre Instrumento Musical que, por sinal é o
meu instrumento preferido.
E, nos idos de 1900, Villa-Lobos começava a compor para o Violão uma série de "pecinhas musicais de gosto popular".
Também passou a ganhar a vida como Violoncelista, tocando em Cinemas, Cafés e Teatros.
Lógico que Dona Noêmia não mais conseguia "conter" o filho...
Começavam as Viagens de Heitor Villa-Lobos por esse imenso Brasil, Viagens essas que foram, podemos assim dizer, o "livro
no qual Villa-Lobos aprendeu Música"!! Música Brasileira, Folclore, que ele soube, como pouquíssimos no Mundo, adicionar à
Música Erudita de seu País!!
Dos 18 aos 20 anos de idade, Heitor Villa-Lobos viveu uma "vida errante e aventurosa" pelo Interior do Brasil, tocando, compondo e familiarizando-se com a
Música Popular dos diversos locais por onde passou. Não tendo recursos financeiros para tais Viagens, Heitor vendeu alguns livros da Biblioteca que havia
pertencido ao seu finado pai Raul.
Ao contrário da grande maioria dos Compositores Eruditos que conhecemos, Heitor Villa-Lobos foi totalmente "irregular" em
seus Estudos de Música!
Com Breno Niedemberg, Villa-Lobos aperfeiçoou Técnica do Violoncelo. Porém aproveitou bem pouco da curta passagem pelas
aulas de Harmonia com Frederico Nascimento no Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro.
Em suas diversas Viagens, no entanto, como um verdadeiro "Auto-Didata", com "incrível intuição", Villa-Lobos recolheu
incontáveis "impressões musicais" diversas, às quais empregou nas belíssimas Obras Musicais que veio a compor alguns
anos depois!
Villa-Lobos conheceu cultural e musicalmente grande parte do Imenso Território Brasileiro: viajou pelos Estados do Espírito Santo, Bahia e Pernambuco,
passando temporadas em engenhos e fazendas diversas, sempre em contato com o Folclore e com a Cultura Popular local, incluindo Cantos Afro-Brasileiros,
Pregões pela Cidade, Desafios de Cantadores ao Som de Violas Caipiras, etc.
Villa-Lobos viajou também pela Região Sul, tendo vivido durante dois anos em Paranaguá-PR, onde tocou Violoncelo para a
Alta Sociedade e Violão para os jovens...
Conta-se que, em 1909, Dona Noêmia, acreditando que seu filho já tivesse morrido, havia mandado rezar uma Missa pela sua Alma...
Em 1910, Heitor Villa-Lobos foi contratado como Violoncelista por uma companhia intinerante de Operetas. A companhia no entanto se dissolveu
em Recife-PE, mas Villa-Lobos seguiu em frente com suas "viagens aventureiras" e aproveitou para conhecer Fortaleza-CE e
Belém-PA e seguiu até a Ilha de Barbados, nas Antilhas!
Com bastante "sede de Aprendizado Musical", Heitor Villa-Lobos viajou também pela Região Centro-Oeste e pela Amazônia!!
Apesar de não ser um fato "oficialmente comprovado", o próprio Villa-Lobos afirmava que foi a Região Amazônica que marcou
profundamente sua Obra Musical!
De volta ao Rio de Janeiro-RJ, em 1913 (após 8 anos de viagens), Villa-Lobos continuou a compor em grande quantidade sua
Obra Musical em diversos estilos, tais como Música Sacra, Música Teatral, Música Solística e Musica Sinfônica, além de
estudar atentamente as Partituras dos Grandes Mestres da Música Erudita, o que, podemos dizer, foi "praticamente a única
Escola Musical Erudita" do Autor das Bachianas Brasileiras!
Foi também nesse mesmo ano de 1913 na Cidade Maravilhosa que Villa-Lobos conheceu a Pianista e Compositora Lucília
Guimarães, que veio a ser a sua Primeira Esposa. Nessa época, Villa-Lobos tocava Violoncelo em salas de espera de cinema,
circos e cabarés.
Lucília ajudou o Marido efetuando correções em suas primeiras Obras, já que ela possuía uma Formação Musical mais
sólida e mais disciplinada que a de Villa-Lobos que foi predominantemente um "Auto-Didata".
Clique aqui
e ouça o Flagrante "Natal do Sertão" (L. G Villa-Lobos - O. F. Pessoa) interpretado pela Tia Chiquinha e pelo
Capitão Furtado,
com Acompanhamento a cargo do Coro do Apiacás, numa gravação histórica do Disco 78 RPM - 34116 - Lado A - Gravadora
Victor - Gravado em 11/11/1936 - lançado em Dezembro/1936 - do Acervo de José Ramos Tinhorão - num excelente Arquivo
Musical pertencente ao
IMS - Instituto Moreira Salles,
excelente site que se preocupa com a Preservação de Inestimáveis Acervos Brasileiros em termos de Música, Fotografia, Artes Plásticas e Biblioteca, o
qual convido o Apreciador a visitar!
Sem dúvida, uma gravação bastante curiosa, com Lucília Guimarães Villa-Lobos Compositora e o
Capitão Furtado
Intérprete!
Dois anos depois, em 1915 teve lugar em Friburgo-RJ a primeira Audição Pública de suas Obras Musicais. A partir de então,
de um certo modo, podemos dizer que era o início do Modernismo Musical Erudito Brasileiro e, como tal, a Música de
Villa-Lobos acabou provocando violentas reações por parte do público e da critica. Os jornais também criticavam Villa-Lobos
pela "Modernidade" de sua Música.
Alguns anos mais tarde, o próprio Heitor Villa-Lobos viria a declarar que
"Não escrevo dissonante para ser moderno. De maneira nenhuma. O que escrevo é conseqüência cósmica dos estudos que fiz,
da síntese a que cheguei para espelhar uma natureza como a do Brasil. Quando procurei formar a minha Cultura, guiado pelo
meu próprio instinto e tirocínio, verifiquei que só poderia chegar a uma conclusão de saber consciente, pesquisando,
estudando obras que, à primeira vista, nada tinham de musicais. Assim, o meu primeiro livro foi o mapa do Brasil, o
Brasil que eu palmilhei, cidade por cidade, Estado por Estado, floresta por floresta, perscrutando a alma de uma terra.
Depois, o caráter dos homens dessa terra. Depois, as maravilhas naturais dessa terra. Prossegui, confrontando esses meus
estudos com obras estrangeiras, e procurei um ponto de apoio para firmar o personalismo e a inalterabilidade das minhas
idéias."
Ao final da década de 1910, começava a se firmar no Compositor uma "Orientação Nacionalista e Folclorizante", a qual
passava a "adotar uma forma mais precisa" em sua Composição Pianística intitulada "A Prole do Bebê". Villa-Lobos
havia conhecido, na época, o Compositor Francês Darius Milhaud (1892 – 1974) e também o Célebre Pianista Polonês Arthur
Rubinstein (1887 — 1982) que, por sua vez, passou a executar a "Prole do Bebê" em suas excursões pelo mundo, fazendo com
que o nome de Heitor Villa-Lobos começasse a cruzar as Fronteiras!
No início do Século XX, por sinal, a Arte no Brasil sofria a Influência Européia (principalmente a Francesa) e, dessa forma,
a juventude começava a "reagir" a tal "espírito conservador". Tal "reação" acabou dando origem à Semana de Arte Moderna que
teve lugar no Theatro Municipal de São Paulo-SP em Fevereiro de 1922, com manifestações em diversos campos da Arte.
A convite de Ronald de Carvalho e Graça Aranha, Heitor Villa-Lobos participou da Semana de Arte Moderna, juntamente com Mário de Andrade e Oswald de
Andrade. Dentre outras Obras Musicais, o Compositor apresentou ao público as "Danças Características Africanas": "Farrapós", "Kankukus" e "Kankikis",
escritas para Piano (e também orquestradas pelo próprio Heitor Villa-Lobos). No mesmo evento, o Compositor também apresentou a "Sonata Nº 2", o
"Quarteto Simbólico", "A Fiandeira" e "Impressões da Vida Mundana", dentre outras Obras de sua Autoria.
Naquele mês de Fevereiro, Jovens Poetas, Escritores e Artistas diversos se reuníram e organizaram três festivais, que tiveram lugar no Theatro Municipal
de São Paulo-SP, com o objetivo de revolucionar a Arte Brasileira e romper de vez com o Academicismo que reinava então nas Artes Plásticas, na Literatura e
também na Música.
O que os Modernistas Paulistas queriam mostrar era aquilo que acreditavam que poderia ser uma "Nova Arte Nacional", criada a partir da "Antropofagia
Cultural" que, segundo eles, seria a característica básica da Sociedade Brasileira.
Villa-Lobos já era então conhecido como um "Músico Controvertido e Diferente" e, dessa forma, a Vanguarda Paulista o elegeu como a Maior Expressão da Música
Modernista Brasileira. O Jovem Maestro e Compositor se entusiasmou com a idéia de ser o Representante Musical do histórico evento e, desse modo, estreou
como "Modernista", bastante vaiado pela platéia que era ainda "atrelada" aos "Modelos Tradicionais"...
Conta-se que as vaias se originaram não apenas pela "Modernidade" de sua Música, mas também pelo fato de que, estando com o pé machucado, Heitor Villa-Lobos
havia subido no palco corretamente trajado, tendo porém um sapato num pé e um chinelo no outro...
Mas Villa-Lobos também recebeu aplausos: um fato curioso aconteceu quando o Pianista Ernani Braga, incumbido de executar "A Fiandeira", deveria seguir a
recomendação do próprio Compositor, em termos de utilizar um "pedal" contínuo que o fizesse parecer um "Intérprete insuportavelmente cacofônico" (evocando
o zumbido do movimento giratório do fuso da roca da fiandeira).
Por outro lado, Luigi Chiaffarelli, conceituado Professor de Piano, sugeria ao Ernani que não se orientasse pelas instruções de Villa-Lobos, já que ele não
era Pianista e, como tal, não poderia jamais avaliar as implicações de um "pedal" reverberativamente continuado numa Peça Musical com tantas notas
aglomeradas...
E, na apresentação, indeciso entre o "bom senso" de Chiaffarelli e as "ousadias intempestivas" de Villa-Lobos, Ernani Braga se sentiu perdido na execução da
Obra e acabou "resumindo" a mesma à quarta parte de sua duração! E não é que o auditório gostou e aplaudiu? A Peça Musical tão viva, tão extravagente e...
tão curtinha, havia agradado o público presente! E tão intenso e imediato aplauso, "não deu tempo" ao Villa-Lobos de reclamar da interpretação...
Villa-Lobos, além de tudo, era também o único assalariado no evento que acontecia naquele início de 1922...
O talento de Heitor Villa-Lobos já vinha sendo reconhecido oficialmente pelo Governo. E no ano seguinte, com apoio de
amigos (dentre eles, a famosa Artista Plástica Tarsila do Amaral), o Compositor obteve da Câmara dos Deputados o
financiamento para viajar rumo a Paris, onde passou um ano dando Concertos e tomando contato com as Vanguardas Musicais
Européias.
Villa-Lobos também se tornou amigo dos Compositores Franceses Edgard Varèse (1883 — 1965) (foto à esquerda) e Maurice
Ravel (1875 – 1937) (que se celebrizou com seu famosíssimo "Bolero") além de conseguir, por intermédio de Arthur
Rubinstein, um Editor para suas partituras: Max Eschig.
Um drástico corte no orçamento, no entanto, fez Villa-Lobos retornar ao Brasil em 1924, antes do pretendido. De volta à
Cidade Maravilhosa, o Compositor foi elogiado por Manuel Bandeira na revista Ariel:
"Villa-Lobos acaba de chegar de Paris. Quem chega de Paris espera-se que chegue cheio de Paris. Entretanto,
Villa-Lobos chegou cheio de Villa-Lobos. Todavia uma coisa o abalou perigosamente: a 'Sagração da Primavera' de
Stravinsky. Foi, confessou-me ele, a maior Emoção Musical da sua vida."
Em 1925, Villa-Lobos também se apresentou em Concertos em Buenos Ayres, São Paulo-SP e Rio de Janeiro-RJ, mesma época na
qual ele trabalhava na composição dos seus já mencionados "Choros" (ver logo acima).
Em 1927, Heitor Villa-Lobos retornou à Capital Francesa, dessa vez em companhia de sua Esposa Lucília Guimarães Villa-Lobos,
para organizar novos Concertos e publicar em Partituras diversas Obras Musicais de sua autoria pela editora Max-Eschig.
Nessa segunda Viagem ao "Velho Continente", o Compositor conheceu novos amigos, dentre os quais, a Pianista Brasileira
Magda Tagliaferro (1893 — 1986), o Maestro Britânico Leopold Stokowski (1882 - 1977), e o Compositor Francês Arthur
Honneger (1892 – 1955). Amigos que freqüentavam a casa de Villa-Lobos e saboreavam uma Feijoada nos fins de semana!!
E o Compositor Brasileiro foi ganhando prestígio internacional cada vez maior, regendo Orquestras e apresentando suas
próprias Composições em diversas Cidades Européias! Sucesso de público e crítica, não deixando de provocar também reações
adversas por suas "Ousadias Musicais", o que também acontecia com os demais Compositores Eruditos Modernistas, como por
exemplo, o Compositor Russo Igor Stravinsky (1882 – 1971), quando da primeira apresentação de seu Ballet "A Sagração da
Primavera".
Sem dúvida, uma Viagem que foi de fundamental importância na Trajetória Musical de Villa-Lobos que passava a ser considerado
como o mais original e representativo Músico da América Latina.
Villa-Lobos retornou ao Brasil no segundo semestre de 1930, para realizar um Concerto em São Paulo-SP. Seria um regresso
temporário, porém, preocupado com o descaso com que a Música era tratada nas Escolas do Brasil, o Compositor apresentou
um revolucionário projeto de Educação Musical à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, projeto esse cuja aprovação
levou-o a fixar residência novamente em seu país-natal.
Residindo durante dois anos na Capital Paulista, Villa-Lobos organizou o Ensino Musical e promoveu o Canto Orfeônico (Coral).
Nessa ocasião, em 1931, reuniu representações de todas as Classes Sociais Paulistas e organizou uma Concentração Orfeônica
à qual intitulou "Exortação Cívica", que contou com a participação de cerca de 12.000 vozes!!
Com o êxito obtido nessa apresentação, veio o convite do então Secretário da Educação do Rio de Janeiro Anísio Teixeira para
que Villa-Lobos coordenasse a criação da SEMA - Superintendência de Educação Musical e Artística - organização essa que
viria a ser responsável pela introdução do Ensino Musical e do Canto Coral nas Escolas.
O então Presidente da República Getúlio Vargas designou Heitor Villa-Lobos como Supervisor da Educação Musical em todo o
Brasil. Foi nesse período, que o Compositor criou diversos cursos, elaborou o Guia Prático (um conjunto de Peças para Piano
de Caráter Pedagógico), compôs as Quatro Suítes de "O Descobrimento do Brasil" e também algumas das suas Nove Bachianas
Brasileiras!
Nesse período em viveu na Paulicéia Desvairada, Villa-Lobos também realizou uma tournée artística pelo Interior dos Estados
de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, em companhia de excelentes Músicos do quilate de Guiomar Novaes, Antonieta Rudge e
Souza Lima (Piano), Maurice Raskin (Violino) e a cantora Nair Duarte Nunes, além de sua Esposa, também Pianista, Lucília
Villa-Lobos.
Botucatu-SP, belíssima cidade do Interior Paulista, "celeiro" de grandes
Intérpretes e Compositores
da Música Caipira Raiz,
também recebeu a visita de Heitor Villa-Lobos, conforme informava um jornal local em Fevereiro de 1931: "Chegaram a esta
cidade, no dia 14 do corrente, os ilustres Bandeirantes da Arte Musical (...) Foram recebidos na estação da Sorocabana por
todas as altas autoridades da comarca, agentes consulares, representantes das classes liberais e conservadoras, comissões de
alunos da Escola Normal, Ginásio Nossa Senhora de Lourdes, Escola Superior de Comércio, representantes de associações diversas,
primando o elemento feminino (...) Uma comissão de senhoritas ofereceu às senhoras Villa-Lobos e Souza Lima corbelhas de flores
naturais, que ostentavam as Cores Nacionais. Hospedados no Hotel Paulista, foram os ilustres patrícios cumprimentados por
senhoras e cavalheiros de nosso escol social, que lhes apresentaram votos de boas-vindas..." (Citado na página 62 do
excelente livro "Villa-Lobos - Uma Introdução" de Luiz Paulo Horta - Jorge Zahar Editor - Rio de Janeiro-RJ - 1987).
Em conseqüência do seu belíssimo Trabalho Educativo, Villa-Lobos viajou novamente rumo à Europa, no ano de 1936,
representando o Brasil no Congresso de Educação Musical em Praga (República Tcheca). O Compositor também passou por Berlim e,
da Capital Alemã, enviou uma carta à Lucília pondo fim ao Casamento. E, de volta ao Brasil, no mesmo ano, Villa-Lobos se uniu à sua
Secretária Arminda Neves d'Almeida, a Mindinha (foto à direita), que veio a ser a sua Segunda Esposa, a quem, dentre outras Obras Musicais,
Villa-Lobos dedicou os Cinco Prelúdios Para Violão e as Nove Bachianas Brasileiras.
E, como se as 12.000 vozes em São Paulo-SP não bastassem, Villa-Lobos continuou a promover o Canto Orfeônico, sempre com o
apoio do então Presidente Getúlio Vargas e, em 1940, regeu uma concentração de 40.000 Estudantes no Estádio de São Januário,
no Rio de Janeiro-RJ!!
Em 1942, criou o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, que objetivava formar candidatos ao Magistério Orfeônico nas
Escolas Primárias e Secundárias, além de estudar e elaborar diretrizes para o Ensino do Canto Orfeônico no Brasil, promover
trabalhos de Musicologia Brasileira, realizar gravações de discos, etc. Na foto à esquerda, Villa-Lobos regendo um Orfeão em 1942.
Em 1944, quando o Mundo vivia o pesadelo da segunda guerra mundial, Heitor Villa-Lobos, influenciado pelo Maestro Leopold
Stokowski, aceitou o convite do Maestro Norte-Americano Werner Janssen (1899 - 1990) para uma tournée nos Estados Unidos. Não
sem uma "resistência inicial", já que o Compositor Brasileiro dizia que só iria aos Estados Unidos
"...somente quando os Americanos quiserem me receber como eles recebem a um Artista Europeu, isto é, em razão das
minhas próprias qualidades e não por considerações políticas...".
Era a "Política da Boa Vizinhança" que era praticada pelos Estados Unidos junto aos Aliados durante a segunda guerra.
E Heitor Villa-Lobos retornou diversas vezes à "Terra do Tio Sam", onde regeu e gravou diversas de suas Composições
Musicais, recebeu homenagens, além de vários importantes contatos que fez com grandes nomes da Música Norte-Americana,
coroando assim a sua Consagração Internacional.
Sem dúvida, um dos mais importantes ciclos da Produção Musical de Heitor Villa-Lobos aconteceu entre 1930 e 1945, quando ele
compôs as Nove Bachianas (pronúncia = "Baquianas") Brasileiras!
Trata-se de um conjunto de Suítes Musicais, o qual foi escrito para diversas Formações Instrumentais, nos quais o
Compositor mesclou o Riquíssimo Folclore Brasileiro (em especial a Música Sertaneja) com as Formas Pré-Clássicas no
Estilo de Johann Sebastian Bach (1685 - 1750), visando conceber uma "Versão Brasileira dos Concertos de Brandemburgo".
As semelhanças que Villa-Lobos percebeu entre a Música Folclórica do Sertão Brasileiro e as Fugas e Contrapontos do Mestre
Alemão motivaram o Compositor Brasileiro a compor essas nove Composições tão características e representativas de seu
Estilo.
Desse modo, os movimentos das Bachianas Brasileiras receberam dois títulos: um "Bachiano" (Prelúdio, Fuga, Ária, Toccata,
etc.) e outro "Brasileiro" (Quadrilha Caipira, Desafio, Embolada, Canto do Sertão, etc.).
Segue abaixo a relação das Nove Bachianas Brasileiras e o título dos respectivos movimentos:
Bachianas Brasileiras Nº 1 para Oito Violoncelos (1932):
Introdução (Embolada)
Prelúdio (Modinha)
Fuga (Conversa)
Composta em 1930, teve sua Primeira Audição Mundial no dia 22/09/1932 (e a Primeira Audição Brasileira no Rio de
Janeiro-RJ no dia 13/11/1938). De acordo com Fabio Gomes no excelente site,
Brasileirinho - Sua Página de Música Brasileira,
"vários autores afirmam, em coro: 'Villa-Lobos já adulto localizou, no Sertão Brasileiro, Músicas que, neste ou
naquele aspecto (Melodia, Contraponto, Modulação), tinham afinidade com aspectos da Obra de Bach que ele conhecia da
infância.' Certo, mas quais aspectos seriam esses e onde ele os encontrou? O único biógrafo a encarar o desafio foi o
mais próximo de Villa-Lobos, C. Paula Barros, autor de 'O Romance de Villa-Lobos' (1950) e seu parceiro em
clássicos como 'O Canto do Pajé'(...)"
Sobre "Bachianas Brasileiras Nº 1", Paula Barros afirmava ver nela
"...Religiosidade e possível evocação ao pai do Compositor, Raul Villa-Lobos (...) As 'Bachianas Nº 1' nos
envolvem num esplendor de ritmos e motivos surpreendentes pela cor e pela sugestão do que mais possa haver de subjetiva
brasilidade (...) ecos dos ritmos das vaquejadas dos campos marajoaras..."
No Primeiro Movimento (Introdução (Embolada)), temos o ritmo vivo, acelerado, e o caráter humorístico do Canto Nordestino que tanto agradou Heitor
Villa-Lobos em suas Viagens pelo Interior do Brasil.
No Segundo Movimento (Prelúdio (Modinha)), a parte lenta da Suíte, o Apreciador ouve o que há de mais característico na Canção Sentimental Brasileira,
num belíssimo solo de Violoncelo.
No Terceiro Movimento (Fuga (Conversa)), temos uma evocação do estilo de improvisação dos Músicos Populares do Rio de Janeiro-RJ na época da juventude
de Villa-Lobos. O próprio Compositor afirmava que
"A cabeça do tema inicial se caracteriza numa espécie de transfiguração de certas células melódicas, típicas e
populares dos antigos seresteiros da Capital Federal, à maneira de Sátiro Bilhar. Bilhar (1861 - 1929) foi um velho e
incorrigível boêmio, cantador e tocador de Violão que acumulava as funções de funcionário público com a de seresteiro
habitual. A forma e o estilo da Fuga representam, primeiro, a espiritualização da maneira de Bach, e depois uma idéia
musical da conversação entre 4 Chorões, cujos instrumentos se disputam a primazia temática, em perguntas (sujeito)
e respostas sucessivas, num crescendo dinâmico, mas sempre conservando a mesma cadência rítmica."
Bachianas Brasileiras Nº 2 para Orquestra (1933):
Prelúdio (O Canto do Capadócio)
Ária (O Canto da Nossa Terra)
Dança (Lembrança do Sertão)
Toccata (O Trenzinho do Caipira)
Também composta em 1930, a mesma teve sua Primeira Performance em Veneza sob a Regência de Alfredo Casella. Em cada um dos
4 movimentos, Villa-Lobos "re-explorou" uma peça composta anteriormente para Piano e/ou para Violoncelo.
O Primeiro Movimento (Prelúdio (O Canto do Capadócio)), evoca o Músico Popular, pitoresco, sem trabalho, sem dinheiro, cheio de espertezas (e que "sempre
se saía bem"), que Heitor Villa-Lobos tão bem conhecia em seus anos de boemia.
No Segundo Movimento (Ária (O Canto da Nossa Terra)), a doçura de certas Melodias Brasileiras, cuja linha sinuosa e atmosfera envolvente o Compositor
reproduz, num belíssimo "Largo Assai", entrecortado por um "Tempo di Marcia" (um movimento lento, entrecortado por um tempo de marcha).
No Terceiro Movimento (Dança (Lembrança do Sertão)), o Solo de Trombone conduz o Apreciador ao Sertão Nordestino e às mais puras tradições da
Vida Sertaneja e da Criação Popular dessa região tão quente e agreste, freqüentemente atingida pela seca. A melodia solada no Trombone é como que uma
"introdução" ao motivo principal que será ouvido no Movimento Seguinte:
Já o quarto movimento (Toccata (O Trenzinho do Caipira)) é famosíssimo, não apenas na Música Erudita, como também na Fina Flor da MPB e na Música Caipira
Raiz!
Sua riquíssima instrumentação, incluindo abundante Percussão na Orquestra Sinfônica, evoca o movimento de uma antiga locomotiva ("Maria Fumaça") viajando
pelos sertões desse imenso Brasil - sem dúvida, uma descrição bem humorada das primeiras Viagens de Villa-Lobos, em busca do conhecimento do nosso
Riquíssimo Folclore!
Ao ouvir o "Trenzinho do Caipira" (a Música cujo trecho o Apreciador ouve ao acessar essa página), o Apreciador é envolto em
agradável sensação de uma Viagem Interiorana, sentindo o ritmo do movimento da biela, ouvindo o barulho do vapor que é purgado da
caldeira, enquanto o trem vai seguindo pelos campos do Sertão Brasileiro!! O trem segue viagem, apita, entra no túnel... Ao final do
movimento, o andamento diminui, dando a nítida impressão da chegada à estação. Mesmo após a parada, a caldeira continua despressurizando,
purgando vapor... O Apreciador ouve o barulho da fumaça saindo, diminuindo a intensidade sonora a cada despressurização, até que a
percussão dá o acorde conclusivo!
É a sensação de uma "gostosa saudade que a gente não sabe de quando, nem do que, mas que é uma gostosa saudade"... É a
Lembrança de um Sertão que existe "dentro da alma da gente", mesmo que a gente tenha nascido na "Cidade Grande", como é o
caso de Ricardinho que escreve esse resumo biográfico...
E a melodia do célebre "Trenzinho do Caipira" também recebeu como letra um Poema escrito por Ferreira Gullar.
A Orquestra requerida para interpretar as "Bachianas Brasileiras N° 2" de Villa-Lobos requer Violinos, Violas, Violoncelos, Contrabaixos, Flauta, Flautim,
Oboé, Clarinete, Sax Tenor, Sax Barítono, Fagote, Contrafagote, Trompas, Trombone, Celesta e Piano, além de riquíssima Percussão composta por Tímpanos,
Ganzá, Chocalhos, Reco-Reco, Matraca, Tamborim, Caixa, Triângulo, Tambor, Pratos, Tam-Tam e Bombo!
Clique aqui
e ouça a "Toccata (O Trenzinho do Caipira)" de Heitor Villa-Lobos e veja a cena da Maria-Fumaça viajando e chegando à Estação. Pena que esse trem não seja
Brasileiro e que o vídeo acrescentado ao
Youtube
não mencione a Orquestra e Regente que executam a célebre Obra de Villa-Lobos. No entanto foi bem empregado o sincronismo da imagem dos movimentos e paradas
da locomotiva com os trechos da Toccata que encerra as "Bachianas Brasileiras N° 2" de Villa-Lobos.
Clique aqui
e ouça a "Toccata (O Trenzinho do Caipira)" de Heitor Villa-Lobos executada pela Orquestra Sinfônica Jovem da Paraíba. Excelente performance que teve lugar
no Cine Bangüê, pelo projeto "Quintas Musicais". Pena que o vídeo adicionado ao
Youtube
não mencione o nome do Regente! Mas é uma apresentação que vale a pena ser ouvida, a cargo dessa Orquestra que é bastante representativa da Música Erudita
no Nordeste Brasileiro!
Clique aqui
e ouça "O Trenzinho Do Caipira" (Heitor Villa-Lobos) interpretada pelo Violonista Gilvan de Oliveira, numa "versão livre à moda mineira" da célebre
Toccata que finaliza as "Bachianas Brasileiras Nº 2" desse Grande Mestre Erudito Brasileiro que também foi um Grande Caipira percorrendo todos os cantos
do país pesquisando nosso Riquíssimo Folclore! Esse Arquivo Musical pertence à página dedicada a
Gilvan de Oliveira
no site
Music Express.
Bachianas Brasileiras Nº 3 para Piano e Orquestra (1934):
Prelúdio (Ponteio)
Fantasia (Devaneio)
Ária (Modinha)
Toccata (Picapau)
Em sua Primeira Audição em 1947, essa Composição contou com a participação do Solista de Piano José Vieira Brandão e
do próprio Heitor Villa-Lobos como Maestro, à frente da Orquestra CBS. Essa peça é considerada como um "Bem Brasileiro
Concerto Para Piano e Orquestra".
Temos no Primeiro Movimento (Prelúdio (Ponteio)) a característica Improvisação do Violonista Popular experimentando as cordas do seu tradicional Instrumento
Musical. Notável também é, no Quarto Movimento (Toccata (Picapau)), assim como no "Choros N° 3", a evocação do famoso pássaro que consegue abrir buracos na
madeira, batendo o bico num ritmo constante, num "martelamento seco e monótono"!
Bachianas Brasileiras Nº 4 para Piano (1930 - 1939)
(Orquestrada pelo próprio Villa-Lobos em 1941):
Prelúdio (Introdução)
Coral (Canto do Sertão)
Ária (Cantiga)
Dança (Miudinho)
Composta para Piano-Solo a partir de 1930, "Bachianas Brasileiras Nº 4" estreou somente em 1939. Em 1941, a peça foi arranjada
para Orquestra e, nessa nova versão, estreou em 1942. De acordo com o Pianista Brasileiro Arthur Moreira Lima, do ponto de
vista do Intérprete, merece destaque
"A grandiosidade do 'Prelúdio (Introdução)', a riqueza de timbres do 'Coral (Canto do Sertão)', a
nostalgia da 'Ária (Cantiga)', interrompida por um Ritmo Sincopado Típico do Nordeste, e a complexidade técnica da
'Dança (Miudinho)'."
O início do Primeiro Movimento ("Prelúdio (Introdução)") é a mesma melodia utilizada no "Samba em Prelúdio" (Baden Powell - Vinícius de Moraes).
No Segundo Movimento (Coral (Canto do Sertão)), uma nota aguda repetida reproduz o "grito breve e martelado" da araponga, outro pássaro do Sertão que
atraiu a atenção de Villa-Lobos.
O Terceiro Movimento ("Ária (Cantiga)") é o famoso Refrão Popular Nordestino
"
Oh, mana deixe eu ir
Oh, mana eu vou só,
Oh, mana deixe eu ir
Para o Sertão de Caicó...
"
recolhido do Folclore por Teca Calazans e gravado por Mílton Nascimento ("Cantiga (Caicó)" (Tradicional - adaptação:
Villa-Lobos - Teca Calazans - Milton Nascimento)) e também por Alceu Valença ("Porto da Saudade" (Alceu Valença - Refrão
do Folclore Nordestino)).
E quem também gravou "Cantiga (Caicó)" foi a Dupla
Pena Branca e Xavantinho
no LP "Cio Da Terra", lançado em 1987 pela Continental (1.71.405.648). É a 6ª Faixa do Lado A. Para nossa felicidade, também
foi remasterizado em CD e essa faixa também foi lançada em algumas coletâneas!
Já no Quarto Movimento (Dança (Miudinho)) temos um tipo de Dança Brasileira cuja característica é a "imobilidade" do corpo do dançarino, que segue em
pequenos passos rápidos, quase imperceptíveis.
Bachianas Brasileiras Nº 5 para Soprano e Oito Violoncelos (1938 - 1945):
Aria (Cantilena)
Dança (Martelo)
O Primeiro Movimento dessa Obra talvez seja o trabalho mais conhecido de Heitor Villa-Lobos. A letra é de autoria da Soprano Ruth Valadares Corrêa,
além de possuir trechos cantados em "Vocalise" (uso da voz humana apenas emitindo som, sem letra). Há também um trecho cantado "a bocca chiusa"
("boca fechada"), que mostra algo como que a nostalgia de um certo tipo de mulher brasileira, de acordo com o comentário de Victor Giudice no inesquecível
site da Gravadora
Kuarup.
Já o Segundo Movimento, apresentado pela primeira vez em 1945, é de dificílima interpretação e a letra é um Poema de Manuel
Bandeira ("Irerê Meu Passarinho no Sertão do Cariri / Irerê Meu Companheiro...").
Ruth Valadares também participou da Primeira Audição da Obra em 1939, com a Orquestra de Violoncelos regida pelo próprio
Villa-Lobos. Em 1947 a Obra foi apresentada por completo pela primeira vez em Paris.
Clique nos links adiante e ouça o
Início (Lado A) e o
Término (Lado B)
da Aria (Cantilena) das "Bachianas Brasileiras Nº 5" de Heitor Villa-Lobos, interpretada por Ruth Valadares Correa,
acompanhada do Octeto Brasil regido pelo próprio Villa-Lobos, numa gravação histórica que ocupa os dois Lados do Disco 78
RPM Nº 104 - Odeon - num excelente Arquivo Musical pertencente ao
IMS - Instituto Moreira Salles,
excelente site que se preocupa com a Preservação de Inestimáveis Acervos Brasileiros em termos de Música, Fotografia, Artes Plásticas e Biblioteca, o
qual convido o Apreciador a visitar!
Lembrar que existia limitação na época com relação à duração máxima (pouco mais de três minutos) que a gravação da Música
podia ocupar em cada lado do "Bolachão" 78 RPM. E, na época dessa gravação histórica, Villa-Lobos ainda não havia composto
o Segundo Movimento (Dança (Martelo)) das "Bachianas Brasileiras Nº 5".
A Ária (Cantilena) das Bachianas Brasileiras Nº 5 também foi utilizada na trilha sonora do filme "Deus e o Diabo na Terra
do Sol", escrito e dirigido por Glauber Rocha no ano de 1964, estrelado por Othon Bastos e Yoná Magalhães. A gravação
utilizada é com a Soprano Victoria de Los Angeles acompanhada por Oito Violoncelos da Orchestre National De La
Radiodiffusion Française (ORTF) sob a Regência do próprio Heitor Villa-Lobos. Essa gravação faz parte do álbum de seis CD's
"Villa-Lobos Par Lui-Même" (ver logo abaixo).
Bachianas Brasileiras Nº 6 para Flauta e Fagote (1938):
Ária (Chôro)
Fantasia
Essa Obra contém apenas dois movimentos e poderia, sem problema, fazer parte dos "Choros". Sua Primeira Audição se deu no dia 24/09/1945. Apesar da
Flauta Transversal ser um Instrumento Musical consagrado para o Samba e o Choro, o Fagote é um Instrumento mais utilizado na Música Erudita. É, portanto,
"sui-generis" a Instrumentação das "Bachianas Brasileiras" Nº 6 para apenas dois Instrumentos Musicais: Flauta e Fagote.
Nas Ruas da Cidade Maravilhosa, o "Choro" era um gênero instrumental que valorizava sobretudo a livre invenção do Intérprete. Era bastante comum o uso da
Flauta e do Oficleide, sendo que em seu lugar, foi empregado o Fagote, nas "Bachianas Brasileiras N° 6". É importante citar que o Oficleide é um Instrumento
Musical atualmente em "desuso", e que é similar um Trombone e possui Chaves como as de um Saxofone.
Bachianas Brasileiras Nº 7 para Orquestra (1942):
Prelúdio (Ponteio)
Giga (Quadrilha Caipira)
Toccata (Desafio)
Fuga (Conversa)
Essa Obra contém quatro movimentos e em sua Primeira Audição foi regida pelo autor, em 13/03/1944. A peça também havia sido
escolhida pelo Professor Francisco Gomes Maciel Pinheiro, então Diretor do Departamento de Difusão Cultural da Prefeitura
do Distrito Federal (na época, o Rio de Janeiro-RJ), para abrir um Festival Villa-Lobos no Teatro Municipal, no dia
29/04/1950. A Jornalista e Musicóloga Beatriz Guimarães comentou que "Bach deveria estar aqui para ouvir estas
Bachianas".
Temos no Primeiro Movimento (Prelúdio (Ponteio)) a Improvisação do Violonista Popular, da mesma forma como acontece no Primeiro Movimento que inicia as
"Bachianas Brasileiras N° 3".
No Segundo Movimento (Giga (Quadrilha Caipira)), a famosa Dança da Quadrilha, de origem francesa, mas que já ocupava importante lugar nas Festas Interioranas,
principalmente no Sul do Brasil, onde a Música Brasileira recebeu a maior influência Européia.
O Terceiro Movimento (Toccata (Desafio)) evoca o famoso torneio entre dois Poetas-Musicistas, que cantam os versos improvisados, principalmente na Região
Nordeste do Brasil.
Cheia de Invenção Melódica, justificando o termo "Bachiana", uma Fuga compõe o Último Movimento não só Sétima, como também da Primeira, Oitava e Nona
"Bachianas Brasileiras" de Heitor Villa-Lobos.
Bachianas Brasileiras Nº 8 para Orquestra (1944):
Prelúdio
Ária (Modinha)
Toccata (Catira Batida)
Fuga
Essa Obra contém quatro movimentos e estreou em Roma no dia 06/08/1947, com o próprio Heitor Villa-Lobos regendo a
Orquestra da Academia de Santa Cecília de Roma.
Assim como na Primeira (Segundo Movimento) e na Terceira (Terceiro Movimento) "Bachianas Brasileiras", no Segundo Movimento das "Bachianas Brasileiras
N° 8" (Ária (Modinha)), o Apreciador ouve na Modinha a característica Canção Sentimental Brasileira já mencionada logo acima.
No Terceiro Movimento (Toccata (Catira Batida)), temos a famosíssima Dança da Catira, na qual os dançarinos marcam o ritmo batendo os pés com bastante
força no chão ou num tablado de madeira, dança essa, bastante característica dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás.
O Quarto Movimento (Fuga) foi também arranjado pelo Autor e deu origem à "Fuga Vocal da Bachiana Nº 8" para Coro Misto, arranjo esse que foi incluído
junto com Músicas de Johann Sebastian Bach e de outros Compositores no livro "Solfejos - Volume 2", editado pelo MEC em 1945, visando o Ensino de Música e
Canto Orfeônico nas Escolas. Segundo Paula Barros "É um tema rico de coloridos vivos e que traduz a Modinha Brasileira, apaixonada e sentimental, como a
expressão psicológica do Povo Brasileiro. E porque ela é tão acentuadamente nacional, nos faz vibrar violentamente".
Bachianas Brasileiras Nº 9 para Coro (1945)
(Arranjada para Orquestra de Cordas pelo próprio Villa-Lobos):
Prelúdio
Fuga
Essa Obra contém dois movimentos. Composta inicialmente para Coro Sem Palavras a Oito Vozes ("Orquestra de Vozes" no dizer de Villa-Lobos), dedicada ao
Compositor Americano Aaron Copland (1900 - 1990), a mesma foi também transcrita para Orquestra de Cordas pelo próprio Villa-Lobos e estreou sob a batuta do
Maestro Brasileiro Eleazar de Carvalho (1912 — 1996), no dia 17/11/1948. Na versão original para Coro, não existe letra. As vozes executam o tema em
"Vocalise".
É mais comum ouvirmos e encontrarmos gravações na versão para Orquestra de Cordas. No entanto, vale a pena ouvir a Versão Original para Orquestra de Vozes
(sem Acompanhamento Instrumental) que se inicia num andamento "Vagaroso e Místico" no Prelúdio que se liga sem interrupção ao Segundo Movimento que é uma
Fuga formada por uma belíssima polifonia, que requer bastante ensaio para poder ser interpretada!
Sobre a "Orquestra de Vozes", de acordo com Adhemar Nóbrega, na página 121 de seu excelente livro "As Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos", editado pelo
Museu Villa-Lobos em 1976 - Segunda Edição - MEC - Departamento de Assuntos Culturais - "...para o próprio Compositor, a idéia não era tão nova. Vinte
anos antes, ao compor o 'Choros N° 3 (Pica-Pau)', para Conjunto Instrumental e Coro Masculino, havia previsto uma silabação destinada a pôr em
evidência os recursos tímbricos da voz humana. Igualmente de 1925 é o 'Choros N° 10', no qual o mesmo recurso foi posto em prática, o que ele
viria a fazer novamente em 1937 com a 'Primeira Missa no Brasil' da Quarta Suíte do 'Descobrimento do Brasil'. Por aí se vê que a concepção
de uma Orquestra de Vozes não foi, de modo algum, capricho ou excentricidade de Compositor, mas idéia que foi cultivada e floresceu estimulada por
experiências anteriores...
"
Quero aqui destacar o excelente CD "Heitor Villa-Lobos - Bachianas Brasileiras 1, 4, 5" lançado pela inesquecível
Kuarup Discos:
esse CD reune três das nove Bachianas Brasileiras de Heitor Villa-Lobos, em sua Instrumentação Original. A interpretação é
a cargo do Rio Cello Ensemble (Nº 1 e Nº5), tendo também a Soprano Leila Guimarães (Nº 5) e o Pianista Antônio Guedes Barbosa
(Nº 4).
E, conforme mencionado logo acima, outra excelente opção recomendada é o CD
"Heitor Villa-Lobos Rege Choros Nº 6 e Bachianas Brasileiras Nº 7" também lançado pela inesquecível
Kuarup Discos.
Em 1945, Villa-Lobos fundou e foi nomeado Presidente da Academia Brasileira de Música. E não parava de viajar: as Viagens
ao Exterior a partir de então visavam a Representação Brasileira em Congressos Musicais, além de que o Compositor e Maestro
Brasileiro aproveitava para dirigir Concertos divulgando suas Composições.
Vieram também importantíssimas Distinções Internacionais: apenas para citar alguns exemplos, Villa-Lobos passou a ser
considerado como Membro Honorário da Academia de Santa Cecília de Roma; foi também homenageado na Colômbia e na Argentina;
foi agraciado em 1943 com o título de Doutor em Música Honoris Causa pela Universidade de Los Angeles. Em 1944, em sua tournée
na "Terra do Tio Sam", foi aclamado como "O Maior Compositor das Américas". Ainda nos Estados Unidos, estreou sua ópera
"Malazarte", no ano de 1948. Villa-Lobos também visitou Israel, no ano de 1953, a convite do Governo do recém-criado país,
cuja criação havia sido aprovada pela ONU em 1948; nesse País, Heitor apresentou em Primeira Audição Mundial o Poema Sinfônico
"Odyssée d' une Race", no qual homenageou a Nação Judia.
Heitor Villa-Lobos, porém, teve que interromper o "ritmo frenético" de sua atividade, pois um tumor maligno na bexiga obrigou
o Compositor a uma cirurgia, a qual foi feita nos Estados Unidos no ano de 1948.
Tal cirurgia fez com que Villa-Lobos sobrevivesse por mais 11 anos, período no qual, entre diversas Atividades Musicais,
o Compositor viajou diversas vezes a Paris, onde regeu a Orquestra da Radio-Difusão Francesa (ORTF), com a qual realizou
uma série de importantíssimas gravações de sua Obra Musical, entre 1954 e 1958.
Quero aqui destacar o álbum de seis CD's "Villa-Lobos Par Lui-Même" ("Villa-Lobos Por Ele Mesmo) lançado pela EMI (originalmente
em 10 LP's) e que contém uma "amostra" bastante representativa e de fundamental importância para o Apreciador conhecer um
pouquinho da Obra Musical desse Grande Compositor Brasileiro!
Além das Nove "Bachianas Brasileiras", Villa-Lobos, regendo a Orquestra Nacional da Rádio Difusão Francesa, nos brinda com
as Quatro Suítes Orquestrais do "Descobrimento do Brasil", além da Sinfonia Nº 4 ("A Vitória"), "Momoprecoce", "Invocação
Em Defesa da Pátria" (Canto Cívico-Religioso), Concerto Para Piano e Orquestra Nº 5, além dos Choros Nºs 2, 5, 10 e 11 e
também os Dois Choros "Bis" para Violino e Violoncelo. Além da Orchestre National de la Radio Diffusion Française (ORTF)
sob a Regência do Compositor, também participam do CD excelentes Solistas do quilate de Victoria de Los Angeles (Soprano),
Fernand Dufrene (Flauta), René Plessier (Fagote), Magda Tagliaferro (Piano), Felicia Blumental (Piano), Fernand Benedetti (Violoncelo),
Maria Kareska (Soprano), Manoel Braune (Piano), Aline Van Barentzen (Piano), Maurice Cliquennois (Clarinete),
Henri Branschwak (Violino) e Jacques Neilz (Violoncelo), além do Coro da Radiodifusão Francesa sob a Regência de Louis Martini e René Alix.
Lamentavelmente, esse álbum sêxtuplo não se encontra disponível com Encarte em Português e, para adquirí-lo, é necessário
pagar preço de produto importado. Mesmo assim, vale a pena, pela excelente Qualidade Musical de seu conteúdo, além do
indiscutível Valor Histórico das gravações que, apesar de não serem estereofônicas (década de 1950) são de boa qualidade,
para a época, e não apresentam chiados.
Durante a década de 1950, Heitor Villa-Lobos vivia entre o Rio de Janeiro-RJ e Paris, além de Viagens que também fazia pelos Estados Unidos. Morava na
Rua Araújo Porto Alegre N° 56, num apartamento no Centro do Rio de Janeiro-RJ. E, na Capital Francesa, ficava no Hotel Bedford, na Rue de l" Arcade,
próximo à Igreja da Madeleine. Existe nesse hotel uma Placa de Bronze homenageando o Imperador D. Pedro II que ali faleceu no dia 05/12/1891. Acima da
mesma placa, foi colocada uma Placa de Mármore com os dizeres: "Neste hotel morou de 1952 a 1959 o Compositor Brasileiro Heitor Villa-Lobos, Grande
Intérprete da Alma de Seu País."
Em Julho de 1959 Villa-Lobos regeu o que veio a ser seu último Concerto, na cidade de New York.
Em Setembro de 1959, o câncer se agravou. Conseguiu uma breve recuperação, no entanto, o Compositor das Bachianas Brasileiras veio a falecer
no dia 17/11/1959, aos 72 anos de idade, em sua casa, na Rua Araújo Porto Alegre, no Rio de Janeiro-RJ.
De acordo com a Pianista Anna Stella Schic (excelente Intérprete e também Comadre de Heitor Villa-Lobos), na página 100 de seu excelente livro
"Villa-Lobos - O Índio Branco" - Imago Editora - Rio de Janeiro-RJ - 1989 - "...no início de Novembro de 1959, recebo um telefonema do Rio
prevenindo-me de que Villa-Lobos voltara à sua casa após uma estada no hospital e que não tardaria a desaparecer do nosso convívio. Imediatamente
providencio minha viagem ao Rio, levando comigo minha filha Sandra, afilhada do casal Villa-Lobos, a fim de que guarde na memória a imagem do padrinho.
Sandra tinha dois anos e meio nessa época (...) Chegando ao Rio, dirigi-me imediatamente ao apartamento dos Villa-Lobos e encontrei o nosso Maestro num
sofá, coberto por uma manta e cercado de Mindinha, sua irmã Julieta e D. Hermenegilda, a mãe de Mindinha e de Julieta. Eu estava muito comovida, sabendo
que era a última vez que o via vivo, mas a atitude corajosa de Mindinha, tentando encobrir a gravidade da situação e, talvez mesmo, procurando em forças
escondidas no seu amor à ilusão de que não era irremediável, deu-me alento para disfarçar (...) Num certo momento, Villa-Lobos pediu um pente e começou a
pentear os cabelos de Sandra, naturalmente crespos e despenteados na vinda, dizendo-me: 'Em vez de passar o dia tocando Piano, você deveria pentear
a sua filha'; fazendo piadas e comportando-se como se nada sentisse, Villa-Lobos nos punha à vontade a todos, com uma naturalidade que marcou minha
lembrança (...) Devo dizer que minha filha guardou na memória cada gesto e cada minuto dessa visita como se, misteriosamente, soubesse que era a única
e última evocação que teria de Villa-Lobos."
Heitor Villa-Lobos foi velado no Salão Nobre do Ministério da Educação, onde compareceram diversos familiares, Artistas, Professores, Ministros,
além do então Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira. Seu corpo foi sepultado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro-RJ, onde
repousa juntamente com outros inesquecíveis Personagens bastante representativos de nossa Boa Música Brasileira, dentre eles, Carmen Miranda e Tom Jobim.
Segundo Carlos Drummond de Andrade, Heitor Villa-Lobos "Era um espetáculo. Tinha algo de vento forte na mata, arrancando
e fazendo redemoinhar ramos e folhas; caía depois sobre a cidade para bater contra as vidraças, abri-las ou despedaçá-las,
espalhando-se pelas casas, derrubando tudo; quando parecia chegado o fim do mundo, ia abrandando, convertia-se em brisa
vesperal, cheia de doçura. Só então percebia que era Música, sempre fora Música..."
Ainda segundo Drummond, "Quem o viu um dia comandando o coro de quarenta mil vozes adolescentes, no Estádio do
Vasco da Gama, não pode esquecê-lo nunca. Era a fúria organizando-se em ritmo, tornando-se melodia e criando a comunhão
mais generosa, ardente e purificadora que seria possível conceber..."
Já o Maestro Britânico Leopold Stokowski (1882 - 1977) considerava Heitor Villa-Lobos com sendo "um dos maiores Compositores do Século XX, porque
expressou em sua Música a imensa variedade de vida de seu País-Natal. Além disso, suas Obras são compreendidas pelos povos de todos os países porque
são universais."
O dia 5 de Março (Data do Nascimento de Heitor Villa-Lobos) foi escolhido pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro
como sendo o "Dia Estadual da Música Clássica".
No dia 13/06/1960 foi criado no Rio de Janeiro-RJ o
Museu Villa-Lobos,
por determinação do então Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira, com a finalidade de preservar o Acervo
e divulgar a Obra desse excelente Compositor Brasileiro.
Dona Arminda Neves d'Almeida, a "Mindinha", foi a Idealizadora e também Diretora do Museu desde sua criação até o seu
falecimento, no dia 05/08/1985.
Além da Preservação e Conservação do legado de Villa-Lobos em Partituras, Documentos e Objetos diversos (incluindo seu Violão),
o Museu Villa-Lobos também tem desenvolvido diversos Projetos nas Áreas Cultural e Educativa, seja pela edição de Livros e
Discos, realização de Festivais, Concursos Internacionais e Concertos Didáticos, além do atendimento à pesquisa.
Desde a inauguração (no dia 27/02/1961), a antiga sede do Museu Villa-Lobos ficava no nono andar do Palácio Gustavo
Capanema (conhecido também como Palácio da Cultura) no Centro do Rio de Janeiro-RJ. A partir de 1986, passou a funcionar no
bairro Botafogo, num Casarão do século XIX, "tombado" pela Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -
SPHAN - atual IPHAN - no ano de 1982 (foto à direita).
O Museu dispõe de três salas de múltiplo uso, as quais abrigam a exposição permanente além de eventuais exposições
temporárias, exibições de vídeos, Recitais e Concertos Didáticos. Também faz parte do Museu Villa-Lobos a Biblioteca aberta
ao público, além dos Jardins e uma Concha Acústica para eventos ao ar livre.
Com o falecimento de "Mindinha" (no dia 05/08/1985), o Museu passou a ser dirigido pela Pianista Sônia Maria Strutt (grande
Intérprete do Compositor) e, ainda em 1986, a Direção passou às mãos do Violonista (também excelente Intérprete de
Villa-Lobos) Turibio Santos (foto à esquerda) que exerce o cargo até os dias atuais.
Indo, portanto, ao Rio de Janeiro-RJ, não deixe de visitar o
Museu Villa-Lobos,
que fica na Rua Sorocaba, 200 - Botafogo - 22271-110 - Rio de Janeiro-RJ (próximo à Estação Botafogo do Metrô).
Na foto abaixo, Netinha (Minha Esposa) e Ricardinho revisitando o Museu Villa-Lobos no Rio de Janeiro-RJ, no dia 03/02/2009:
"Considero minhas Obras como cartas que escrevi à posteridade, sem esperar resposta..."
A Obra Musical deixada pelo grande Maestro e Compositor Heitor Villa-Lobos é realmente sui-generis, com inusitadas
combinações de diversos Instrumentos Musicais, uso de Percussão Popular (incluindo Reco-Reco, Pandeiro, etc.) e imitação de
cantos de pássaros, sem no entanto possuir nenhum "estilo definido".
"Disciplina" foi sem dúvida um vocábulo que "nunca existiu no Dicionário" de Villa-Lobos: com enorme Produção Musical (mais
de 1000 Composições, muitas das quais não devidamente catalogadas), o Compositor seguiu sempre seu próprio impulso interior
para compor, avesso às críticas impiedosas de que era vítima com freqüência: "Minha música é Natural, como uma
cachoeira..." Pouquíssimos Compositores no Mundo produziram em tão grande quantidade. O Alemão Georg Philipp Telemann
(1681 - 1767) foi um dos poucos Compositores que teve maior Produção Musical do que o Brasileiro Heitor Villa-Lobos.
Villa-Lobos não fazia "revisões" nem "acabamento" em sua Obra Musical. Era como se a Inspiração Musical jorrasse de sua
imaginação sem interrupção. Também não se concentrava numa Obra apenas e logo passava a desenvolver as idéias novas
que sempre lhe surgiam, fosse na sala de sua residência, num navio, num trem, ou até mesmo numa mesa de sinuca!
Antônio Carlos Jobim (1927 - 1994) certa vez visitou Heitor Villa-Lobos em sua residência e, como de costume, ele estava
compondo, num dia particularmente barulhento, com bastante agitação na rua e também dentro da casa e a janela aberta! Tom
Jobim, admirado, perguntava como que Heitor conseguia se concentrar e compor naquele alvoroço, naquele ruído, ao que ele
respondeu: "O ouvido de fora não tem nada a ver com o ouvido de dentro. Além disso, minha Música é algo vivo: se passar
o bonde na rua, eu boto ele na minha Sinfonia também..."
Villa-Lobos compunha sem parar, ao mesmo tempo em que regia em Concertos, organizava instituições, planejava o Ensino
Musical Brasileiro, tudo ao mesmo tempo!
Lamentavelmente, apesar de mais de 1000 Composições conhecidas, inúmeros manuscritos do Grande Gênio Brasileiro foram perdidos em grande parte por
negligência. Segundo Anna Stella Schic, na página 91 do já mencionado livro "Villa-Lobos - O Índio Branco", "...esperando voltar logo, talvez,
Villa-Lobos confiou vários pacotes contendo esses manuscritos à porteira do edifício que habitava; o tempo foi passando, os pacotes atravancaram e,
um dia, foram para o lixo... ou se transformaram em papel de embrulho do açougue vizinho... Perderam-se assim a 'Prole do Bebê N° 3 (Os Brinquedos)', os
últimos 'Choros' N° 13 e 14, o 'Prelúdio N° 6' para Violão. Outras Obras deterioram-se mais tarde, em diversas situações..."
Musicólogos, de um modo geral, costumam dividir a Obra de Heitor Villa-Lobos em três períodos:
O primeiro é o Período Modernista, Vanguardista, correspondente ao início de sua trajetória como Compositor, os primeiros
anos na Capital Francesa e também a Semana de Arte Moderna no Theatro Municipal de São Paulo-SP. Nessa fase, a criatividade
de Villa-Lobos teve destaque na ênfase dada ao ritmo e também aos Instrumentos de Percussão, além da "corajosa" combinação
dos timbres dos diferentes Instrumentos Musicais, sendo que muitos dos quais não eram "Integrantes Permanentes" da Orquestra
Sinfônica.
Como exemplo de Obras Musicais do Primeiro Período, podemos destacar os já mencionados "Choros" (ver logo acima as diferentes Instrumentações que
Villa-Lobos empregou para cada um deles) e tambem o "Noneto (Impressão Rápida do Brasil)" (composto em 1923) para Flauta, Oboé, Clarinete, Fagote,
Celesta, Harpa, Piano, Bateria e Coro Misto. Notáveis Peças para Piano também são desse período, como é o caso de "A Prole do Bebê", do "Rudepoema"
(concluído em 1926), que o Compositor dedicou ao Pianista Arthur Rubinstein, além do "Momoprecoce" (para Piano e Orquestra).
Data também desse período a Suíte Popular Brasileira (1912) para Violão. Ver logo abaixo mais alguns detalhes sobre essa
interessante Composição de Villa-Lobos.
O segundo é o chamado "Período Oficial", o período das Cerimônias Públicas e das Obras Nacionalistas. É bem verdade que a
Música de Heitor Villa-Lobos sempre foi "Nacionalista", já que ele nunca deixou de citar o Folclore e a Cultura Brasileira
em sua Obra Musical.
O "Nacionalismo" relacionado a esse Segundo Período é na verdade a Exaltação (Patriota e Ufanista) na ocasião em que
o Compositor servia aos interesses do "Estado Novo" implantado pelo então Presidente Getúlio Vargas, após o Golpe de 1930.
Um exemplo típico representativo dessa fase é "Invocação em Defesa da Pátria" (Canto Cívico-Religioso) para Coro e
Orquestra (sobre Poema de Manuel Bandeira), que foi composto para o embarque dos "Pracinhas" que foram obrigados a
integrar a Força Expedicionária Brasileira (FEB) e combater na segunda guerra mundial.
São também desse Segundo Período as Quatro Suítes "Descobrimento do Brasil" (1937). Feitas para integrar a trilha sonora do
filme homônimo de Humberto Mauro, as Suítes foram compostas para Orquestra Sinfônica, sendo que a Quarta Suíte tem também a
participação do Coral e retrata musicalmente a Primeira Missa no Brasil, com interessante combinação de Melodias e Danças
Indígenas juntamente com Canto Gregoriano.
O terceiro é o Período Neoclássico, no qual Villa-Lobos compôs inclusive as nove Bachianas Brasileiras. Como que "cansado" do
esforço para se manter "sempre na vanguarda", o Compositor parece que preferiu passar a escrever suas Composições Músicais
de modo "mais relaxado", sendo que nesse período Neoclássico (que alguns Biógrafos preferem chamar de Neobarroco) foi a
fase onde mais se revelou em sua Obra Musical a influência de Johann Sebastian Bach.
Como não poderia deixar de ser, as Obras mais conhecidas desse período são as já mencionadas Nove Bachianas Brasileiras,
compostas entre 1930 e 1945 (ver logo acima, alguns detalhes sobre cada uma delas).
São também desse período os Cinco Prelúdios Para Violão (compostos em 1940) e o "Concerto Para Violão e Pequena Orquestra" (composto
em 1951 por sugestão do Andrés Segovia (1893 – 1987) - O Concerto era de início uma "Fantasia Concertante Para Violão e Orquestra" e o
exímio Violonista Espanhol sugeriu a Villa-Lobos que acrescentasse o Segundo e o Terceiro Movimentos, além de uma Cadência Virtuosística para o Solista,
entre o Segundo e o Terceiro Movimentos, transformando a Fantasia Concertante num belíssimo Concerto).
São também desse Terceiro Período os 17 Quartetos de Cordas (para 2 Violinos, Viola e Violoncelo), as 12 Sinfonias e os
Cinco Concertos Para Piano e Orquestra.
Não há, porém, uma "fronteira clara" entre o segundo e o terceiro períodos, já que os mesmos aconteceram quase que
simultaneamente.
Conforme foi mencionado logo acima, nos tempos em que quem tocava Violão era discriminado, por ser "sinônimo de malandragem",
Villa-Lobos escreveu um conjunto de Obras muito importante para esse belíssimo Instrumento Musical de Seis Cordas: o já
mencionado "Choro Típico Nº 1 (Chora Violão)" (1920) (dedicado a Ernesto Nazareth), os 5 Prelúdios (1940)
os 12 Estudos (1924 - 1929) e também a Suíte Popular Brasileira (1908 - 1912).
A Suíte Popular Brasileira é composta de 5 Movimentos:
Mazurka-Choro
Schottish-Choro
Valsa-Choro
Gavota-Choro
Chorinho
O Primeiro Movimento (Mazurka-Choro) também foi arranjado e gravado na Viola Caipira pelo
Almir Sater
em seu excelente LP "Instrumental Dois", lançado pela Gravadora Eldorado (Nº 200.90.0611) em 1990 e, para nossa felicidade,
remasterizado também em CD.
Quero aqui destacar o excelente CD "Villa-Lobos - A Obra Completa Para Violão-Solo" lançado pela
Kuarup Discos:
trata-se de uma Edição histórica: antes de se consagrarem como o Duo Assad, os irmãos Violonistas Sérgio Assad e Odair
Assad gravaram esse Disco (originalmente em LP) que foi produzido inicialmente para distribuição aos clientes da "Coca-Cola
Indústrias Ltda." e que mostra que os dois irmãos já eram gênios e virtuoses antes mesmo do sucesso internacional que
alcançaram posteriormente. Excelente Disco que não pode faltar na Coleção de quem gosta da Música Erudita, do Violão e
da Boa Música Brasileira! Produzido por Mário de Aratanha - Direção Musical de Airton Barbosa - Gravado e mixado no
Estúdio Haway - Rio de Janeiro-RJ - em Outubro de 1978, por Walter Oliveira - Masterizado para CD por Luigi Hoffer (2000) -
Apoio Técnico: Museu Villa-Lobos.
De acordo com Airton Barbosa, em comentário sobre o Disco supra-citado, no inesquecível site da Kuarup,
"
Muita gente pensa que o principal instrumento de Villa-Lobos era o Violoncelo. Na verdade este era um de seus instrumentos
prediletos, que Villa tocava muito bem, e compôs muito para ele. Mas o mais importante no contexto de sua obra é, sem
nenhuma sombra de dúvida, o Violão.
Este Violão, o menino Heitor estudava escondido, fugia pela janela para tocá-lo com os Chorões dos botequins, e
apaixonadamente chegou a renegá-lo em alguns salões da elite carioca.
O crítico Luis Paulo Horta lembra reminiscências de Lucília Villa-Lobos, Primeira Esposa do Compositor, quando este a
visitou pela primeira vez em sua residência na Tijuca: Nesta visita, Villa fez sucesso tocando violão, e Lucília conta
que 'terminada sua exibição, ele manifestou desejo de ouvir a pianista; e toquei, a seguir, alguns números de Chopin,
cuja execução me pareceu ter impressionado bem...'
Na opinião dela, Villa-Lobos ao final se sentia um pouco constrangido, talvez mesmo inferiorizado: 'Naquela época, o
Violão não era instrumento de salão, de Música de Verdade, e sim um instrumento vulgar, de Chorões e Seresteiros'. E,
como se vencesse uma depressão, ele acabou contando a Lucília que seu primeiro instrumento era o Violoncelo. Villa-Lobos
tinha então 25 anos, e integrava a orquestra da Sociedade de Concertos Sinfônicos, sob a regência de Francisco Braga.
Mas se o Violoncelo era seu Instrumento Público, o Violão era o da intimidade. Villa só tocava Violão em casa ou com
amigos, e talvez porisso ele esteja presente em quase toda a sua Obra. Tanto em peças solo quanto integrando conjuntos,
o Violão é o instrumento que o inspira, apontando soluções melódicas, baixarias, harmonias inéditas, e criando ao mesmo
tempo um estilo pessoal e uma linguagem inconfundivelmente brasileira. Muitas vezes esta fonte de inspiração foi
reconhecida pelo próprio compositor.
(...) Esta intimidade com o instrumento foi totalmente assumida a partir de sua grande amizade com Andrés Segóvia, que ele
conheceu em Paris em 1924. Até então, Villa tinha escrito a Suite Popular Brasileira (1908-1912) e o Choros nº 1 (1920).
Seu encontro com o maior Violonista vivo parece que desencubou todo o Violonismo ainda contido dentro dele. E foi a
partir de então que explodiram suas maiores criações para o instrumento: os 12 Estudos, de 1924 a 1929, os 5 Prelúdios,
em 1940, e o Concerto para Violão e Pequena Orquestra, em 1951. Os Estudos e o Concerto são dedicados ao próprio Segóvia,
e os Prelúdios à Mindinha Villa-Lobos."
Quero aqui destacar o também excelente CD "Villa-Violão", lançado pela
Kuarup Discos,
(KCD-001) o qual também brinda o Apreciador com A Obra Completa Para Violão-Solo de Heitor Villa-Lobos, na interpretação de Turíbio Santos que, além de
exímio Violonista é também considerado excelente Intérprete do Compositor, sendo também o atual Diretor do
Museu Villa-Lobos,
conforme mencionado logo acima. Contendo os 5 Prelúdios, os 12 Estudos, a "Suíte Popular Brasileira" e o "Choro Típico N° 1", lamentavelmente, porém, esse
CD já se encontrava "fora de catálogo", antes mesmo do encerramento das atividades da Gravadora
Kuarup.
A Música de Heitor Villa-Lobos também enriqueceu musicalmente diversos filmes brasileiros e estrangeiros. Conforme já mencionado, as Quatro Suítes
"Descobrimento do Brasil" foram compostas para integrar a trilha sonora do filme homônimo de Humberto Mauro em 1937 e a Ária (Cantilena) das
"Bachianas Brasileiras N° 5" foi utilizada na trilha sonora do filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol", escrito e dirigido por Glauber Rocha no ano de
1964. E o mesmo Glauber Rocha também incluiu as "Bachianas Brasileiras" N°s. 3 e 6 no filme "Terra Em Transe" em 1967, filme que contou com a participação
de excelentes Atores, dentre os quais, Jardel Filho, Paulo Autran, Paulo Gracindo, Hugo Carvana, Danuza Leão, Mário Lago e Flávio Migliaccio, apenas para
citar alguns.
"Ou eu faço uma boa coisa ou faço uma droga. Mas esse negócio de procurar inspiração, deixar crescer cabeleira para ter inspiração, beber... Isso não
existe em mim. Eu escrevo quando é preciso." ("Síntese Crítica e Biográfica" - E. Nogueira França)
"Prá frente, ó Música! Que algum dia tu sejas a maior inspiradora da Paz entre os homens!."
Ambas as citações de Heitor Villa-Lobos acima estão presentes nas páginas 174 e 175 do já mencionado livro de Anna Stella Schic "Villa-Lobos - O Índio Branco".
E, em 1986, pouco antes das comemorações do Centenário de Villa-Lobos, o Tesouro Nacional lançou a Nota de 500 Cruzados (Cz$ 500,00), cuja frente e verso é
mostrada abaixo:
Essa "Viagem de Trem" pelo Interior Musical do Brasil não pára por aqui:
Clique aqui
e pegue esse "trem", que ele agora irá para o Interior Pernambucano, na cidade de Exu-PE!! Conheça um pouquinho da belíssima Trajetória Musical desse que
foi um dos melhores conhecedores desse nosso Brasil Musical e que tão bem soube traduzir essa Riqueza Musical de seu "Pé De Serra" em sua inesquecível
"Sanfona Branca", desde menino com apenas 7 anos de idade!!!: Conheça um pouquinho da belíssima Lição de Vida que foi a carreira do "Rei do Baião"
Luiz Gonzaga!!