Joel Antunes Leme, o Pedro Bento, nasceu em Porto Feliz-SP no dia 08/06/1934 e faleceu em São Paulo-SP no dia 03/01/2019; Valdomiro de Oliveira, o Zé da Estrada, conterrâneo de
Tinoco,
nasceu em Botucatu-SP (no Distrito que hoje é o recém emancipado município de Pratânia-SP), no dia 22/09/1929, e faleceu em São José do Rio Preto-SP, no dia 05/06/2017.
Aos 7 anos de idade, Joel Antunes já cantava Cururus em Porto Feliz-SP; considerado
"menino-prodígio", também cantava em Festas do Divino nas regiões de Tietê e Piracicaba entre
outras; e sua formação musical foi ao lado de cantadores como Sebastião Roque, Pedro Chiquito,
Luís Bueno, João David e Zico Moreira. Pedro ainda fez parte do "Trio Paulistano" e atuou
também na dupla "Matinho e Matão" a qual se apresentava na Rádio Clube de Santo André-SP.
Participava também cantando no Programa de Nhô Zé na Rádio Nacional. E, aos 13 anos de idade,
resolveu se mudar para a Paulicéia Desvairada.
Valdomiro, por outro lado, teve uma trajetória um pouco diferente: foi retireiro e agricultor.
Oriundo de família de Cantadores, consta que seu bisavô teria cantado com D. Pedro II e
dele recebeu uma viola de madrepérola, com a qual fez questão de ser enterrado. Valdomiro foi
também caminhoneiro, resultando daí o seu nome artístico de Zé da Estrada. Além de
caminhoneiro, Valdomiro foi também administrador de fazendas. Na carreira musical, além de ter
sido cantor mirim, fez parte do trio "Os Fazendeiros", juntamente com Paiozinho e com o
acordeonista Pirigoso, e com sucesso nas rádios Cultura e Nacional.
Foi em São Paulo-SP, no ano de 1954, no programa "Manhãs Na Roça" de Chico Carretel, na Rádio
Cruzeiro do Sul, que Joel Antunes conheceu Valdomiro que já residia há 17 anos na Capital
Paulista e já havia adotado o pseudônimo de Zé da Estrada. E em 1956 a dupla recém criada
passou a atuar na Rádio Cultura e em circos, participando também de campanhas políticas.
E em 1957 a dupla gravou o primeiro 78 RPM na gravadora Continental, interpretendo a
"Santo Reis" (Pedro Bento - Paulo Vitor) e "Teu Romance" (Pedro Bento - Zé da Estrada -
Braz Hernandez). No mesmo ano gravaram mais um disco onde se destacava o valseado
"Seresteiro Da Lua" (Pedro Bento - Cafezinho - José Raia), considerado por muitos como o maior
sucesso na carreira da dupla. Na época, Pedro Bento e Zé da Estrada eram acompanhados pelo
acordeonista Coqueirinho.
Em 1960 passaram a ser acompanhados pelo acordeonista Célio Cassiano Chagas, o Celinho,
formando o trio "Pedro Bento, Zé da Estrada e Celinho", conjunto que se apresentou na Rádio
Bandeirantes e, logo depois, na Rádio Tupi, ambas na Capital Paulista. Celinho continua até
hoje tocando o Acordeon nos shows de Pedro Bento e Zé da Estrada, como no SESC de Bauru-SP,
por exemplo (ver fotos logo abaixo).
Apesar da Música Caipira ser um Estilo Musical Genuinamente Brasileiro, ela não ficou livre de
influências estrangeiras as quais aconteceram em toda sua história. Conforme já foi dito por
Cornélio Pires,
o estilo nasceu da fusão das Culturas Européia (Portuguesa, principalmente), Africana e
Indígena.
A influência da Música Folclórica de outros países latinos também se fez presente em nossos
ritmos, como por exemplo, a Guarânia Paraguaia que influenciou os ritmos de composições de
Nhô Pai e
Mário Zan
e, também não podemos deixar de mencionar, as diversas Guarânias Paraguaias, com versões para
a Língua Portuguesa feitas por
José Fortuna
e que estouraram nas paradas de sucesso nas vozes de
Cascatinha e Inhana.
Não esquecendo também de mencionar algumas influências da Música Americana Rural
através de versões para o Português gravadas pela dupla
Belmonte e Amaraí
(por exemplo
"Os Verdes Campos de Minha Terra" (Putman - versão: Geraldo Figueiredo) que é uma versão
do Country "The Green Green Grass Of Home").
Nessa fusão de culturas, Pedro Bento e Zé da Estrada também fizeram um "harmonioso casamento" da
Música Caipira Brasileira com a Música Mexicana dos Mariachis (conjuntos típicos formados por 8 a
12 pessoas, com Cantadores, Violões, Trompetes e Chitarrones, que interpretam a Música
Folclórica nas ruas de diversas cidades mexicanas, em ritmos como a Canção Rancheira).
Não abandonando a autêntica Música Caipira Raiz, Pedro Bento e Zé da Estrada, que também eram
fãs da Música Mexicana, passaram a vestir trajes típicos com os característicos "Sombreros
Mexicanos" e passaram a interpretar também músicas típicas desse interessante país
latino-americano, entre 1963 e 1971, acompanhados também pelo trompetista Ramón Pérez.
E a dupla passou a ser conhecida como "Os Amantes das Rancheiras".
De acordo com a entrevista concedida pela dupla no programa "Viola Minha Viola" que foi ao ar
no dia 23/07/2005 pela
TV Cultura
de São Paulo-SP, após uma visita de Miguel Aceves Mejia ao Brasil, Pedro Bento e Zé da Estrada
(que, além da Moda de Viola, já haviam começado a interpretar canções mais românticas, além de
Boleros e Rancheiras) resolveram então "plagiar" o célebre cantor mexicano. O primeiro
"chapelão mexicano" foi confeccionado em Brotas-SP, com três chapéus de palha, encaixados
um sobre o outro. E quando Pepe Ávila havia chegado do México junto com um conjunto de lá, foi
que os Amantes das Rancheiras adquiriram as roupagens por completo.
As características dos Mexicanos tanto nas vestimentas como também na música, na instrumentação
e nos "gritinhos dos Mariachis" (Ai, Ai, Ai... Hui, Hui, Hui... ) bastante comuns também nas
interpretações de Miguel Aceves Mejia, harmonizaram-se com a Música Raiz Brasileira,
não só com Pedro Bento e Zé da Estrada, mas também com outras duplas tais como
Tibagi e Miltinho,
Belmonte e Amaraí
e também
Milionário e José Rico,
esses últimos tendo gravado não apenas versões, mas também composições próprias nos Ritmos
Mexicanos.
Tem sido sempre uma característica de Pedro Bento e Zé da Estrada a mistura de rítmos tais como
Canção Rancheira, Bolero, Mambo, Fox e Guarânia, além do Repertório Caipira Raiz que não
abandonaram.
Em 1974 Pedro Bento e Zé da Estrada transferiram-se para a Rádio Record onde permaneceram até
1981. E, em 1978, participaram brilhantemente do filme "Os Três Boiadeiros", dirigido por
Valdir Kopezky.
Em sua brilhante carreira musical, de quase 50 anos, Pedro Bento e Zé da Estrada
gravaram aproximadamente duas mil músicas, num número estimado de 16 discos de 78 RPM,
104 LP's e 22 CD's, com bastante sucesso em diversas composições que se tornaram verdadeiros
clássicos da Música Caipira Raiz e que premiaram a dupla com diversos Discos de Ouro e também
de Platina.
Dentre seus maiores sucessos musicais, podemos destacar, além de "Seresteiro Da Lua" (Pedro
Bento - Cafezinho - José Raia), composições que são verdadeiras obras de arte tais como
"Piracicaba" (Nílton A. Melo), "O Sonho do Matuto" (Capitão Furtado - Laureano),
"Boi Soberano" (Carreirinho - Isaltino G. Paula - Pedro L. Oliveira), "Mourão Da Porteira"
(Raul Torres - João Pacífico), "Sinhá Maria" (René Bittencourt), "Os Três Boiadeiros" (Anacleto
Rosas Jr.), "Romaria" (Renato Teixeira) e "Mágoa de Boiadeiro" (Índio Vago - Nonô Basílio),
apenas para citar algumas Brasileiras Autênticas!
Pedro Bento e Zé da Estrada continuam cantando, gravando e se apresentando em shows sempre
calorosamente aplaudidos por inúmeros Apreciadores por todo o Brasil. São exemplos de
talento e força de vontade, indispensáveis quando se fala na autêntica Música Caipira
Raiz.
Na foto à direita, os Amantes das Rancheiras no Teatro São Pedro na Capital Paulista em Março
de 2003, em gravação de um programa "Viola Minha Viola" especial, pela
TV Cultura
de São Paulo-SP, ocasião na qual a "Madrinha"
Inezita Barroso
recebeu das mãos do Governador Geraldo Alckmin e da Secretária da Cultura do Estado de São Paulo
Cláudia Costim a Comenda do Mérito da Ordem do Ipiranga! Na ocasião, além de Pedro Bento e Zé
da Estrada, também estiveram presentes, as
Irmãs Galvão,
Teodoro e Sampaio e também a Orquestra Paulistana de Viola Caipira, sob a regência do Maestro
Rui Torneze.
A dupla gravou um dos seus mais recentes CD, lançado em Janeiro de 2003 pela Atração Fonográfica:
"Do Jeito Que o Povo Gosta" o qual contém a seleção de repertório escolhida pelo próprio
Pedro Bento, com musicas de diversos autores renomados. Destaque para uma regravação de
"Mágoa de Boiadeiro" (Índio Vago - Nonô Basílio) que conta com a participação especial
de Daniel.
Merece ser visitada, junto à Câmara Municipal de Pratânia-SP, no Museu dedicado à dupla
Tonico e Tinoco,
a sala dedicada à dupla Pedro Bento e Zé da Estrada, onde são mostrados troféus,
discos, fotos, indumentárias, instrumentos musicais antigos, e todo um aparato já utilizado pela
dupla através de sua História que continua sendo construída!
Na foto abaixo, Pedro Bento (à direita) e Zé da Estrada (à esquerda) por ocasião da Festa Junina
no SESC de Bauru-SP, no dia 18/06/2005. Ao centro, em segundo plano, o acordeonista Celinho:
Na foto abaixo, da esquerda prá direita, o acordeonista Celinho, Ricardinho e o trompetista
Paquito, que acompanharam Pedro Bento e Zé da Estrada na apresentação que teve lugar no SESC
de Bauru-SP no dia 18/06/2005:
Na foto abaixo, da esquerda prá direita, Zé da Estrada, Ricardinho e Pedro Bento após a
apresentação que teve lugar no SESC de Bauru-SP no dia 18/06/2005:
E, na foto abaixo, Pedro Bento e Zé da Estrada, com
Ramiro Vióla, também Botucatuense e conterrâneo de Zé da Estrada:
E, homenageando "Pedro Bento e Zé da Estrada" e diversos outros Intérpretes e Compositores da Música Caipira Raiz, quero aqui apresentar o
"Causo" do Pedro Bento na Vendinha do Seu Manuel, uma belíssima criação do "Cumpadre"
Luiz Viola:
Visto e ouvido naquela venda de portas abertas para o estradão:
No balcão da venda:
— Seu Manuel, dá uma pinga...
— Mas, quem vejo! Pedro Bento!
— Pois é, seu Manuel, vim tomar uma pinguinha...
— Pois não! Aqui está! Mas o senhor é o senhor mesmo, Pedro Bento? E o que me conta? E o Zé?
— É da estrada.
— Já ficaram ricos? Que me dizem?
— Só o Zé.
— Zé, rico?
— Milionário!
— E você?
— Estive entre os índios. Sabe que consegui até posto de comando entre eles?
— Cacique?
— E Pagé!
— Nossa! E agora?
— Estava com Zé Rôia e Chiquinho, campeando e tocando gado, mas não deu certo.
— Mas porquê, Pedro Bento?
— Aconteceu, sabe... o Zé Rôia.
— O que houve com ele?
— Caiu do cavalo.
— Nossa! E ele se machucou, Pedro Bento?
— Foi dentro do valo e a boiada pisou.
— Virgem Santa! E agora?
— Ficou eu e o Chiquinho, tocando a boiada.
— Então vocês estão viajando pela estrada?
— Nós, não, somente eu.
— Mas, porquê, homem?
— Numa tarde de rodeio, Chiquinho bebeu, não me obedeceu, pulou no picadeiro. Aí, num relance, até atirei na rês!
— Ê?
— A vaca tremeu, mas no pulo que deu - paf! - matou meu companheiro...
— E agora?
— Por onde eu passo o povo pergunta por nós três. Eu fiquei sozinho, tocando a boiada. Aí, parei com isso.
— É pena.
— E sabe do Tinoco?
— Nunca vem aqui na venda, é homem ocupado, mesmo com a idade. Mas é boa-gente: se quiser ir até ele, ele lhe recebe.
— É que me alembrei dele agorinha mesmo. E, cada vez que eu me alembro dele e do Tinoco, me dá uma tristeza, uma vontade de chorar, lembrando aqueles tempos que nunca mais hão de voltar. Dois caboclos bons e decididos, na Viola, doloridos.
— É, seu Pedro Bento, eu também tenho tristeza, recordando das proezas, das viagens e motins. Viajamos mais de dez anos por esse rincão sem fim. Mas, porém chegou o dia, que Tinoco apartou-se de mim.
— Tem sabido dele?
— Fizemo a última viagem. Foi lá pro sertão de Goiás. Fui eu e ele e também foi o capataz. Viajemo muitos dias prá chegar em Ouro Fino. Depois da Festa do Divino, não vi mais ele.
— Soube que ainda toca Viola Cabocla, aquela que não era lembrada.
— E a Moreninha?
— Vive fazendo um juramento para ela, de nunca mais ter amor, prá viver, penar, chorando, por todo lugar que for.
— Pensei que ele tivesse pego a besta ruana, prá trazer a curitibana, que está no Paraná...
— Pois, é...
— Soube do Almir?
— Pegou o trem e foi do Pantanal rumo a Santa Cruz de la Sierra.
— É pena.
— Pena branca! É essa aqui que está no meu chapéu, veja. Achei-a de uma garça que deu meia-volta e sentou na beira do cais. Se soubesse que o Almir estava por aqueles lados... justamente quando entrei no Mato Grosso, dei em terras paraguaias. Foi terrível: lá tinha revolução. Enfrentei fortes batalhas.
— É mesmo?
— É. Agora sabemos que o medo viaja também por todos os trilhos da Terra.
— E o que pretende fazer de hora em diante?
— Ir até Mococa, descansar. Conhece?
— Mococa e paraíso, assim, ó...
E Pedro Bento, colocando seu sombreiro, foi saindo da venda, acrescentando por fim:
— Somente ficar ouvindo o piar do inhambu nas tardes serenas.
E, foi com profunda tristeza que a Cultura Caipira recebeu a notícia do falecimento do Zé da Estrada, no dia 05/06/2017, aos 87 anos de idade, após vários dias internado na UTI do Hospital de Base de São José do Rio Preto-SP...
Zé da Estrada já estava afastado dos palcos desde Setembro de 2016, após ter sofrido um AVC, além de complicações renais.
Esse inesquecível Amante das Rancheiras morava com sua Esposa numa fazenda em Riolândia-SP, onde vivia sob os cuidados de uma Enfermeira.
Seu corpo foi velado e sepultado no dia 06/06/2017 na Cidade de Riolândia-SP, onde ele residia...
Zé da Estrada, com certeza, foi recebido de Braços Abertos no Oriente Eterno, e agora as belíssimas Rancheiras que ele tão bem interpretou já fazem parte do Repertório do Grande Coro e da Grande Orquestra Celestial de Violeiros.·., sob a Regência do Grande.·. Arquiteto.·. Do.·. Universo.·. ...
Zé da Estrada: Receba de Netinha e Ricardinho essa singela homenagem...
E, foi também com profunda tristeza que a Cultura Caipira recebeu a notícia do falecimento do Pedro Bento, por volta das 16:00 do dia 03/01/2019, aos 84 anos de idade, vítima de pneumonia, decorrente de complicações pulmonares, após quase dois meses internado na UTI do Hospital Bandeirantes, na Capital Paulista...
Seu corpo foi velado na OSSEL, em São Caetano do Sul-SP, onde foi cremado às 13:00 do dia 04/01/2019...
Pedro Bento, com certeza, foi recebido de Braços Abertos no Oriente Eterno.·., tendo se reencontrado com o Zé da Estrada, e, agora suas belíssimas Rancheiras, que ele tão bem cantou em Dupla com o saudoso parceiro, já fazem parte do Repertório do Grande Coro e da Grande Orquestra Celestial de Violeiros.·., sob a Regência do Grande.·. Arquiteto.·. Do.·. Universo.·. ...
Pedro Bento: Receba de Netinha e Ricardinho essa Singela Homenagem...
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qual, desde o final da década de 1950, vem atuando brilhantemente no Rádio e na TV, além de terem participado também de três filmes e de terem gravado mais
de 10 Discos. Conheça um pouquinho da trajetória artística da Dupla
Mogiano e Mogianinho.