"Quem nasceu com o destino da cigarra tem que fazer zummmmmmm por esse Mundão de Deus...".
(José Rico, num dos slogans por ele inventado)
"Na história da Música Sertaneja, pelo meu conhecimento, Milionário e José Rico são os
inimitáveis".
(Carlos Massa, o Ratinho - apresentador do SBT)
Romeu Januário de Matos, o Milionário, nasceu em Monte Santo-MG no dia 04/01/1940. José Alves
dos Santos, o José Rico, nasceu em São José do Belmonte-PE no dia 29/06/1946. Este, por sua vez,
foi criado em Terra Rica-PR, desde os dois anos de idade, e acabou adotando (e registrando em
Cartório) o nome José Rico Alves dos Santos, em alusão à cidade paranaense onde viveu sua
infância. O apelido foi inventado por um padre, ainda durante a infância de José Rico...
Romeu (foto à esquerda) foi pedreiro, garçom e pintor de parede e encontrou inspiração musical
em sua própria mãe, observando-a cantar. Aprendeu Música "de ouvido", não tendo estudado em
nenhuma escola. José Rico era apaixonado e fiel ouvinte da Música Sertaneja desde criança e
sempre gostou das músicas de intérpretes do quilate de
Tião Carreiro e Pardinho,
Pedro Bento e Zé da Estrada,
Zico e Zeca,
Liu e Leu
e também
Tibagi e Miltinho.
José Rico, por sinal, sempre tentou igualar a sonoridade de Miltinho Rodrigues e, apesar da
tão característica entonação de sua voz, jamais abandonou o tom de voz do célebre companheiro
de dupla de Tibagi.
José Rico (foto à esquerda) também chegou a sonhar com a carreira de Jogador de Futebol,
tendo jogado em pequenos times de pouca expressão. Uma contusão que ele sofreu aos 18 anos
obrigou-o a desistir dos gramados. A opção seguinte foi a carreira musical.
Tanto Romeu como José Alves já haviam formado diversas duplas. Os dois se conheceram na Capital
Paulista, ao final da década de 1960, no hotel "Ideal da Luz" onde estavam hospedados; hotel
esse, por sinal, de "baixíssima categoria", na chamada "boca do lixo", próximo
da Estação da Luz.
Romeu, por sua vez, acabou adotando o nome artístico de Milionário para combinar com o do
novo companheiro, que já possuía o apelido de José Rico. A idéia na verdade foi inspirada no
nome do famosíssimo "Carnê Milionário" do Baú da Felicidade, do Grupo Sílvio Santos.
José Rico foi na verdade o nono parceiro que Romeu conheceu, visto que este, desde criança, já
cantava, ainda em sua Monte Santo natal. José Rico, por outro lado, atuava num trio com dois
Violões e um Acordeon e se apresentava num programa da Rádio Tupi.
Ao conhecer Romeu, José Rico não teve dúvidas: deixou o trio e formou a nova dupla, cuja
carreira teve seu início efetivo no ano de 1970, com a gravação do primeiro disco,
intitulado "Matéria Paga".
Início difícil. Não tinham divulgação nem apoio. Milionário e José Rico, no entanto, não
desanimaram e foram levando o disco de emissora em emissora, por conta própria. A gravação
do disco foi "fiada", com um empréstimo em dinheiro que José Rico conseguiu de um amigo.
Após algumas dificuldades na Paulicéia Desvairada, sem grandes resultados, Milionário e José Rico
resolveram atuar em Londrina-PR, onde passaram a cantar num estúdio de gravação de jingles
comerciais.
Após alguns compactos e três LPs que passaram despercibidos (na gravadora Califórnia), gravaram
então em 1973 o primeiro LP pela Continental/Chantecler, gravadora à qual eles foram
apresentados pelo compositor Prado Júnior que também trabalhava na produção de jingles. Esse
LP, de início, vendeu pouco (apenas 700 cópias em 1973) e a Chantecler não queria que a dupla
continuasse no elenco da gravadora, apesar da insistência de Brás Biaggio Baccarin que
defendeu com unhas e dentes a permanência deles, pois tinha certeza de que "os ventos mudariam".
De fato, após alguns meses, a vendagem havia subido para cerca de 7000 cópias.
Destaque no primeiro LP para as músicas "Inversão de
Valores" (Prado Júnior - João Armando Perrupato), "De Longe Também Se Ama" (José Rico -
Jair Silva Cabral), "Paraná Querido" (Paulinho Gama - Goiá) e "Coração de Pedra" (Belmiro).
A dupla chegou a pensar em desistir, já que Música não garantia o sustento. Na Chantecler,
chegaram a lhes oferecer dinheiro para que eles parassem!
No entanto, após o sucesso alcançado com o primeiro LP, Milionário e José Rico já haviam sido
contratados pela Continental/Chantecler, gravadora que acabou sendo responsável pela quase
totalidade dos discos da dupla. E em 1975, gravaram o Volume 2, intitulado "Ilusão Perdida"
que é, por sinal, o disco preferido do Milionário! Destaque para "Ilusão Perdida" (Milionário -
José Rico) e "Dê Amor Para Quem Te Ama" (José Rico - Peão Carreiro).
Vieram depois o Volume 3 ("Livro Da Vida") (1976) e o Volume 4 ("As Gargantas De Ouro Do
Brasil") (1977), e o sucesso cada vez maior. E ainda no mesmo ano de 1977, eles conheceram a
consagração definitiva, com o estrondoso sucesso da Canção Rancheira "Estrada Da Vida" (José
Rico), faixa-titulo do LP Volume 5 (capa do LP acima e à direita), sem dúvida, o maior sucesso
da dupla, cujo trecho o Apreciador ouve ao acessar essa página. Veja abaixo a letra:
Estrada Da Vida
(José Rico)
Nessa longa estrada da vida
Vou correndo e não posso parar
Na esperança de ser campeão
Alcançando o primeiro lugar.
Mas o tempo cercou minha estrada
E o cansaço me dominou
Minhas vistas se escureceram
E o final da corrida chegou.
Este é o exemplo da vida
Para quem não quer compreender
Nós devemos ser o que somos
Ter aquilo que bem merecer.
Mas o tempo cercou minha estrada
E o cansaço me dominou
Minhas vistas se escureceram
E o final desta vida chegou.
"Estrada Da Vida" (José Rico) proporcionou a venda de mais de dois milhões de cópias e originou
o roteiro do filme homônimo, baseado na própria vida dos integrantes da dupla e dirigido por
Nelson Pereira dos Santos. Sucesso enorme em todo o Brasil, o filme "Estrada da Vida" conquistou
o primeiro lugar no Festival Internacional de Filmes de Brasília e foi vendido para diversos
países, inclusive a China!! Milionário e José Rico foram convidados pelo Governo Chinês a se
apresentarem naquele país, no ano de 1985, excursão que durou um mês, num Intercâmbio
Cultural, no qual a dupla foi mostrar sua música para o "outro lado do mundo". Foi a
primeira dupla brasileira que visitou esse país!
Em 1987, Milionário e José Rico também estrelaram nos filmes "Levando a Vida" e "Sonhei Com
Você", apesar dos mesmos terem tido menos sucesso do que "Estrada da Vida".
O gosto de José Rico pela Música Gaúcha, além das Músicas Cigana, Paraguaia e Mexicana, fez com
que a dupla acabasse somando tais influências, resultando no som tão inconfundível e peculiar
da dupla, de personalidade única e com repertório que engloba diversos estilos tais como
Guarânias, Polcas, Canções Rancheiras, Valsas, Boleros, Huapangos, Corridos, Rasqueados,
Milongas, Modas Campeiras, etc.
Notável também é o acompanhamento com Trompetes, Violinos, Harpas Paraguaias e diversos
instrumentos musicais inusitados até então para a Música Sertaneja. Isso sem falar
também na influência mexicana (já vista antes em duplas como
Pedro Bento e Zé da Estrada,
Belmonte e Amaraí e
Tibagi e Miltinho.
A dupla prosseguia com sucesso cada vez maior, com a excelente voz grave do Milionário e os
falsetes e vibratos naturais do José Rico e também com suas vestimentas peculiares: Milionário
com seu chapelão de cowboy e camisa aberta deixando aparecer as correntes de ouro, enquanto José
Rico com sua característica barba e cabeleira, além dos óculos escuros, anéis e crucifixos! E
pensar que, para Brás Biaggio Baccarin (grande incentivador da dupla que os manteve na Chantecler,
apesar dos protestos da gravadora), o único problema da dupla estaria nos nomes: "... se a
dupla fizesse sucesso, eles cairiam bem; do contrário, ficariam ridículos, seria uma gozação
danada..."
Em 1991, após a gravação do LP Volume 20 ("Vontade Dividida"), ocorreu a separação da dupla por
um período de três anos. Cansados da rotina, da seqüência de shows e da carreira de um modo
geral, eles desfizeram a dupla e cada um decidiu tocar sua vida. Milionário formou
dupla com o Mathias (da dupla "Matogrosso e Mathias") e também gravou um LP com o Robertinho
(da dupla "Léo Canhoto e Robertinho"), enquanto que José Rico chegou a tentar carreira solo e
pensou inclusive em parar de cantar.
E, em 1994, Milionário e José Rico uniram novamente as suas vozes e gravaram o 21º LP ("Nasci
Para Te Amar"), o qual foi também lançado simultaneamente em CD, o primeiro da dupla.
Além de composições dos próprios integrantes da dupla, o Repertório de Milionário e José Rico
também é composto por obras de diversos autores tais como Roberto e Erasmo Carlos, Waldick
Soriano e Moacir Franco, além de Compositores da Música Caipira Raiz do quilate de
Goiá,
Dino Franco,
Biá,
José Fortuna
e
Praense,
apenas para citar alguns.
Segundo eles, "...a Música tem que ficar igual ou melhor que a original. Nunca pior. Nunca
gravar por gravar, só porque a Música é sucesso...".
Com Milionário e José Rico, podemos observar um verdadeiro "sincretismo musical", associado à
tão característica afinação e talento que fazem da dupla um grande sucesso em shows que
têm reunido enormes multidões como por exemplo em Belo Horizonte-MG, onde se apresentaram
para uma platéia de 60.000 pessoas, além de Uberaba-MG, com 140.000 pessoas e no Rio Grande
do Sul, onde reuniram 180.000 pessoas!
A dupla tem sido considerada também como sendo bastante exigente e detalhista. José Rico, de
uma, certa forma, conseguiu acabar com o calote aos músicos, lamentavelmente tão comum,
principalmente às duplas caipiras, já que ele sempre exigiu o pagamento em dinheiro. José Rico
não aceitava cheques, pois sabia que muitos deles seriam sem fundos. Também não tinha conta
bancária nem cartão de crédito.
Segundo Milionário e José Rico, o momento mais emocionante da carreira deles foi quando ouviram
pela primeira vez as suas vozes gravadas. José Rico disse que a emoção maior foi com os
comentários dos amigos. Milionário, por outro lado, quando ouviu pela primeira vez uma música
da dupla tocando no rádio, estava num ônibus... Sentiu vontade de sair gritando para todos que
era ele lá... cantando...
E, homenageando "Milionário e José Rico", quero aqui apresentar o "Causo" do José Rico na Vendinha do Seu Manuel, uma belíssima criação do "Cumpadre"
Luiz Viola:
Visto e ouvido naquela venda de portas abertas para o estradão:
O automóvel estaciona frente à venda, levantando poeira vermelha da estrada, naquele final de manhã ensolarada. Alguém de longas costeletas e óculos de sol salta do carro, batendo as mãos nas calças na tentativa de tirar o pó e se dirige ao balcão:
— Mas, quem vejo! - diz alegremente Manuel, o vendeiro - Zé Rico!!!
— Pois é, seu Manuel, eu mesmo...
— Pois vai uma pinga? Mas o senhor é o senhor mesmo, seu Zé Rico? Sabe que esta noite, dormindo acordado, sonhei com você?
— Não pinga, não. Primeiramente, sirva-me uma água mineral sem estar gelada . Água Mineral Prata porque a garganta é de ouro.
— E o Milionário?
— Como eu, sempre nesta longa estrada da vida.
— Mas, hoje ele não está com você.
— É que ele está na esperança de ser campeão, alcançando o primeiro lugar.
— Mas acontece que vocês já alcançaram o primeiro lugar.
— Mais de dois milhões de discos.
— E você, o que me conta?
— Estive viajando para Mato Grosso, Aparecida do Taboado. Fiquei 60 dias. Lá, conheci uma morena, que me deixou amarrado. Hoje bebo esta água mineral, porque passei mal com a bebida: até mudei meu jeito de ser, bebendo para esquecer, apaixonado.
— E a moça era bonita, assim, como se diz, valia a pena?
— Boneca cobiçada.
— Nossa! E agora?
— Pois olha nos meus olhos, vê que não estou chorando!
— Esqueceu ela?
— É. Coração de pedra.
— Ilusão perdida - completou seu Manuel com seriedade.
— Dê amor a quem te ama, é meu lema.
— E afinal?
— Entenda isso, seu Manuel. Este é o exemplo da vida, para quem não quer compreender: nós devemos ser o que somos, ter aquilo que bem merecer.
E foi com profunda tristeza que a Cultura Caipira recebeu a notícia do falecimento do José Rico, aos 68 anos de idade, no dia 03/03/2015, em Americana-SP, onde estava internado, com problemas no coração, nos rins e no joelho...
Um dia antes da "Madrinha"
Inezita Barroso
ter completado seus 90 Anos de Idade...
"O zummmmmmm do Zé Rico" agora faz parte do Grande Coro e da Grande Orquestra Celestial de Violeiros.·., sob a Regência do Grande.·. Arquiteto.·. Do.·. Universo.·. ...
José Rico: Receba de Netinha e Ricardinho essa singela homenagem...
Essa viagem pela Música Caipira Raiz continua:
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e pegue o trem, que ele agora irá para Corinto-MG, São Fidelis-RJ e Comendador Gomes
Ferreira-MG: conheça um pouquinho desse trio que foi criado por Mangabinha em 1973 e que, com
diversas formações diferentes, inovou a Música Sertaneja sem ferir totalmente o estilo,
sem esquecer totalmente as Raízes, e faz parte de um "divisor de águas" na História Musical
Brasileira. Conheça um pouquinho desse conjunto que continua "na estrada" que é o
Trio Parada Dura.