Luís Raimundo, o Luizinho nasceu em São Paulo-SP em 1916 e faleceu também na Capital Paulista em 1983. Seu irmão Yvo Raymundo, o Limeira, também era Paulistano; nasceu no
dia 30/08/1924 e faleceu em Sorocaba-SP no dia 10/01/2010. Carmela Bonano, a Zezinha, também nasceu na Paulicéia Desvairada no dia 16/01/1928 e faleceu em Perdizes-SP em
15/05/2002 (diversas biografias citam 1982 como o ano de falecimento de Zezinha, já que, após o falecimento de Luizinho, ela se afastou totalmente da vida artística).
Luizinho iniciou sua carreira artística no ano de 1939 cantando em dupla com Mariano (o mesmo
da célebre dupla "Caçula e Mariano", que fazia parte da Turma Caipira de
Cornélio Pires).
Desfeita a dupla com Mariano, Luizinho passou a cantar em dupla com Diogo Mulero, o
Palmeira,
no período que se extendeu de 1946 a 1952.
"Palmeira e Luizinho" foram então contratados pela Rádio Tupi de São Paulo-SP e pela gravadora
Continental (hoje Warner Music), na qual lançaram o primeiro disco com as músicas "Cavalo
Preto" (Anacleto Rosas Júnior) e "Boiadero Bão" (Anacleto Rosas Jr. - Arlindo Pinto). Na
mesma gravadora também fizeram sucesso com os clássicos "Burro Picaço" (Anacleto Rosas Jr. -
Geraldo Costa), "Baldrana Macia" (Anacleto Rosas Jr. - Arlindo Pinto) e "Paraná do Norte"
(Palmeira).
Em 1951 "Palmeira e Luizinho" foram para a RCA-Victor (hoje BMG), gravadora na qual também
gravaram alguns dos seus maiores sucessos, tais como "Chão De Minas" (Palmeira - Luizinho),
"Chofer De Estrada" (Luizinho - Ado Benatti), "O Crime De Maringá" (Palmeira - Luizinho) e
"Bom Jesus De Pirapora" (Palmeira - Arlindo Pinto) (não confundir com a música homônima
composta por
Serrinha
e
Ado Benatti,
também um grande clássico do Repertório Caipira Raiz).
No mesmo ano, com a Acordeonista Carmela Bonano, a Zezinha (ver mais abaixo), formaram um
trio que logo se desfez. Na foto acima e à direita, Palmeira, Luizinho e Zezinha em 1952, foto
essa gentilmente enviada pelo Radialista, Produtor e Pesquisador Maikel Monteiro de Curitiba-PR
(ver abaixo nas Referências Bibliográficas).
A dupla "Palmeira e Luizinho" foi, por sinal, a que lançou o gênero musical conhecido como
Moda Campeira, cujas letras falam de situações na vida do campo, tendo
o Acordeon como o principal instrumento musical; o Violão e a Viola acompanham o Acordeon
numa batida semelhante à do Rasqueado (pode-se dizer que é uma "adaptação brasileira" do
Rasqueado originário do Paraguai). A diferença da batida é que na Moda Campeira "bate-se seco"
enquanto que no Rasqueado, "arrasta-se os dedos" nas cordas.
As músicas que fizeram parte do repertório de "Palmeira e Luizinho" ficaram a cargo de
excelentes Compositores da época, tais como Arlindo Pinto,
Ado Benatti e
Anacleto Rosas Jr,
em composições musicais tais como "Chofer da Estrada" (Luizinho e Ado Benatti), "Baile na Tuia"
(Palmeira e Arlindo Pinto), "Rio Paraguai" (Luizinho - Anacleto Rosas Jr.), "Romance De
Caboclo" (Luizinho e Arlindo Pinto), além de composições próprias tais como "São Judas Tadeu"
(Palmeira - Luizinho), "Paraná do Norte" (Palmeira) e "Chão de Minas" (Palmeira - Luizinho),
apenas para citar algumas.
A dupla se desfez em 1953, no entanto "Palmeira e Luizinho" chegaram a se reunir novamente em
1956 tendo gravado um disco 78 RPM na RCA contendo "Doutor Promessa" (Palmeira - Teddy Vieira)
e "Boliviana" (Palmeira - Teddy Vieira), esta última com a participação da cantora Marlene
Simões.
Quando a dupla se desfez,
Palmeira
passou a cantar com Biá. E Luizinho formou dupla com Waldemar de Franchesi, o
Nenete
(que havia cantado antes na dupla "Nenete e Ditinho" e também no "Trio Saudade", com Ninão e
Nininho).
Nenete adotou o nome artístico de Limeira na dupla com Luizinho, com quem cantou durante um
ano, de 1952 a 1953 e, nessa formação, a dupla "Luizinho e Limeira" atuou nos programas
"Imagens do Sertão" e "Alma da Terra" na Rádio Tupi de São Paulo-SP. Após a dupla com Luizinho,
Waldemar adotou novamente o nome artístico de
Nenete
e formou com Isidoro Cunha a célebre dupla
Nenete e Dorinho.
Conforme menciono também na página dedicada a
Nenete e Dorinho,
o nome artístico Limeira já foi adotado por diversos artistas sertanejos, inclusive o
célebre compositor
Sulino,
provavelmente homenageando a simpática cidade de Limeira-SP, próxima a Piracicaba-SP.
Com essa formação (Luís Raimundo e Waldemar de Franchesi), Luizinho e Limeira gravaram
10 discos 78 RPM na RCA Victor (hoje BMG). O primeiro deles, com as músicas "1500 Cabeças
(Anacleto Rosas Jr.) e "Gaúcho Amigo" (Luizinho - Arlindo Pinto). Também gravaram, dentre
outras, as músicas "Tapera Caída" (João Pacífico), "Litoral Brasileiro" (Luizinho - Limeira),
Goiás Do Sul (Teddy Vieira - Jaime Ramos) e "Rio Grande Do Sul" (Arlindo Pinto - Luizinho),
apenas para citar algumas. Nas gravações, a dupla contou com o acompanhamento de Zezinha no
Acordeon. Na foto acima e à esquerda, Luizinho, Limeira (Waldemar de Franchesi) e Zezinha,
foto essa gentilmente enviada pelo Radialista, Produtor e Pesquisador Maikel Monteiro de
Curitiba-PR (ver abaixo nas Referências Bibliográficas).
Desfeita a dupla com Nenete, em 1954, Luizinho convidou seu irmão Yvo Raymundo para substituir o
Waldemar, tendo mantido o mesmo nome da dupla "Luizinho e Limeira".
A dupla, a partir de então, passou a ser oficialmente um trio, com o acompanhamento de Acordeon
a cargo de Carmela Bonano, a Zezinha, que já havia acompanhado a dupla "Palmeira e Luizinho" e
também a dupla de Luizinho com Waldemar de Franchesi. E a nova formação passou a se chamar
"Luizinho, Limeira e Zezinha".
De família italiana, Carmela ganhou o apelido de Zezinha ainda criança. Aprendeu a tocar
Acordeon ("de ouvido") com Ângelo Reale aos nove anos de idade. E em 1953, Zezinha se
formou em Música Erudita no Conservatório Aidir Meirelles.
A carreira musical de Zezinha se iniciou em 1946, no "Trio Mineiro" (convidada pelo Zulmiro que
integrava o trio) e, dessa forma, "estava traçado" o destino de Zezinha na Música Sertaneja.
Moça muito bonita, chamou a atenção na Rádio Tupi também pelo fato de ser na época uma das
pouquíssimas mulheres a tocar o Acordeon. Após um ano com o "Trio Mineiro", Zezinha passou a
acompanhar a excelente dupla
Tonico e Tinoco
durante 8 meses, viajando por diversos lugares do Brasil.
O primeiro disco (em solo de Acordeon) Zezinha gravou na Todamérica em 1951, com a valsa
"Brejeira" (Zezinha - Luizinho) e a mazurca "Alegria" (Zezinha - Luizinho). Ainda em
"carreira-solo", gravou diversas músicas de sucesso, dentre as quais "Baldrana Macia"
(Anacleto Rosas Jr. - Arlindo Pinto), "Paraná Do Norte" (Palmeira), "Índia Porã" (Zezinha -
Luizinho), "Lágrimas de Mulher" (Pereirinha) e "Oito Baixos" (Zezinha - Messias Garcia),
apenas para citar algumas.
Com Luís e Yvo Raymundo, Zezinha integrou o famoso trio homenageado nessa página, que,
por sinal, recebeu o título de "Trio Orgulho do Brasil"! Sem dúvida, o mais famoso trio da
Música Caipira Raiz.
O primeiro disco de Luizinho e Limeira (Luís e Yvo Raymundo) foi gravado em 1954 na RCA-Victor
com as músicas "Valsa do Assobio (Arlindo Pinto)" e "Mulinha" (Francisco Amor - Mauro Pires)".
"Luizinho, Limeira e Zezinha" não possuíam cachê fixo, como era comum na época e costumavam
receber 50 % da bilheteria nos locais onde se apresentavam, que eram em geral circos e
circos-teatros.
Em 1956, "Luizinho, Limeira e Zezinha" conquistaram o Prêmio Roquette Pinto (o mais cobiçado
prêmio do rádio brasileiro). E em 1958 o Trio Orgulho do Brasil ganhou o “Troféu Viola Dourada”
como melhor trio. E Zézinha também ganhou o prêmio como melhor sanfoneira.
Luizinho foi contratado como Diretor Artístico do Núcleo Sertanejo da Odeon no ano de 1958.
Sendo na época uma das maiores fábricas de discos no Brasil, a mesma ainda não tinha um
Elenco Sertanejo. Dado o enorme sucesso e a grande procura pelo gênero, a gravadora se viu
obrigada a criar um "cast" nessa área, daí a contratação do Luizinho, que estreou na Odeon com
"Remorso" (Luizinho - José Fortuna) e "Recordar É Viver" (Luizinho - Régis Falcão)". E, fizeram
parte do elenco na Odeon renomadas duplas tais como
Zé Fortuna
e Pitangueira, e "Campanha e Cuiabano". E Luizinho também lançou na Odeon para todo o Brasil as
"Primas Miranda".
Em 1959 Zezinha ainda gravou alguns discos como solista na Odeon com os maxixes "Serafina"
(Messias Garcia) e "É Da Banda De Lá" (Irvando Luiz - Peteleco). E no ano seguinte também
como solista, Zezinha gravou o LP "A Imperatriz Da Harmônica", pela Orion e, em 1961, gravou o
LP "Dance Com Zezinha" pela Chantecler (hoje Warner Music).
No dia 24/09/1960, numa apresentação no Circo-Teatro Estrela Dalva na cidade de Itanhaém-SP,
Zezinha abria a apresentação do trio. Como era de costume, ela introduzia o show cantando
sozinha a primeira música, acompanhada de seu Acordeon, quando um sujeitinho execrável,
inqualificável, louco e frustrado, chamado Edmundo Freire, invadiu a cena e esfaqueou-a,
ferindo-a na mão, na perna e no pé, além de 11 furos no fole do Acordeon. Edmundo "queria
porque queria" ser o marido de Zezinha e declarava que "... se ela não ficasse com
ele, não ficaria com mais ninguém"...
Sem comentários...
A "Imperatriz da Harmônica" levou quase dois meses para se recuperar dos ferimentos e do susto. Esse atentado
passou a fazer parte da História do trio, tendo originado um de seus maiores sucessos que foi
"O Crime do Circo" (Zezinha - Limeira), música essa que acabou se transformando também numa
peça teatral.
"Luizinho, Limeira e Zezinha" também apresentaram as peças "Pedro Feio" e "O Menino da
Porteira", cujo tema composto por
Teddy Vieira
e Luizinho foi sem dúvida o maior sucesso da dupla inicial e também do trio.
Também foram grandes sucessos de "Luizinho, Limeira e Zezinha", dentre outras, as músicas
"Pretinho Sábio" (Palmeira - Teddy Vieira), "Pé Na Tábua" (Ado Benatti - Luizinho -
Comendador Biguá) (a música cujo trecho o Apreciador ouve quando acessa essa página),
"Romaria" (Anacleto Rosas Jr. - Dois Turunas) (não confundir com a também muito bonita
composição homônima de Renato Teixeira), "Pretinho Aleijado" (Teddy Vieira - Laureano) e
"Lenço Preto" (Teddy Vieira - Laureano), apenas para citar algumas.
O inesquecível trio também participou de vários programas radiofônicos, no tempo em que os
programas ainda eram ao vivo, com auditório. Chegaram inclusive à incrível marca de três
programas semanais na Rádio Tupi, durante 19 anos!
"Luizinho, Limeira e Zezinha" permaneceram em plena atividade até 1974, quando Luizinho
precisou parar de cantar e de viajar, devido a um câncer na garganta. No entanto, eles ainda
continuaram com as apresentações nos diversos programas de Rádio e TV, com Limeira
fazendo a "primeira voz" e a segunda voz a cargo de um irmão da dupla conhecido como
Zé Coqueiro.
E, em 1980, Luizinho, Limeira e Zé Coqueiro apresentaram-se na TV pela última vez, no
excelente programa "Viola Minha Viola", que se iniciava na
TV Cultura
de São Paulo-SP e era apresentado na época pelo saudoso Moraes Sarmento. Nesse programa,
Limeira e Zé Coqueiro interpretaram grandes sucessos da dupla e Luizinho, já com a voz sumida,
relembrou fatos da carreira e acompanhou os irmãos tocando o Violão.
Luizinho também chegou a formar em 1982 uma dupla com o compositor
Jeca Mineiro,
aparecendo na capa do disco e com alguns dos grandes sucessos dos dois renomados compositores,
tais como "Dama de Vermelho" (Jeca Mineiro - Ado Benatti), "Pé Na Tábua" (Ado Benatti -
Luizinho - Comendador Biguá), "Não Beba Mais Não" (Jeca Mineiro - Orlandinho),
"Felicidade De Matuto" (Jeca Mineiro - Prof. Gilson), além do famosíssimo "Fuscão Preto"
(Jeca Mineiro - Atílio Versutti), sendo que nessa gravação, a introdução instrumental
começa com um toque da famosa "buzininha" original do Fusca. No entanto, a voz que
cantou com Jeca Mineiro foi na verdade a voz do Zé Coqueiro, irmão de Luizinho.
Chegou a ser lançado em 1982 pela Chantecler (hoje Warner Music) aquele que veio a ser o
último LP, contendo algumas gravações de antigos sucessos tais como "Pretinho Sábio"
(Palmeira - Teddy Vieira) e "O Menino Da Porteira" (Teddy Vieira - Luizinho). O disco
foi uma compilação de grandes sucessos de "Luizinho, Limeira e Zezinha" e eram
gravações antigas, já que o trio não havia entrado em estúdio para fazer esse trabalho.
Além do câncer na garganta, um grave problema respiratório emudeceu Luizinho, que "passou para
o Andar de Cima" em 1983. E, com isso o trio se desfez para sempre, já que, após o
falecimento de Luizinho, a "Imperatriz da Harmônica" se afastou totalmente da vida artística.
Limeira passou a dar aulas sobre produtos cosméticos, enquanto que Zezinha se aposentou,
tendo se mudado para Perdizes-SP, onde veio a falecer em 15/05/2002.
"Para matar a saudade de seus fãs", Limeira se apresentou no "Viola Minha Viola" no ano
de 2001, onde cantou com a "Madrinha" e Comendadora
Inezita Barroso,
que apresenta o excelente programa, produzido por Rivaldo Corulli e que vai ao ar nas noites de
Sábado, com reapresentação nas manhãs de Domingo pela
TV Cultura
de São Paulo-SP.
E, na página 131 de seu livro "Enciclopédia das Músicas Sertanejas", no verbete que se
refere a "Luizinho e Limeira", Ayrton Mugnaini Jr. comenta que "... até hoje, quem gosta
de Música Sertaneja, de longe avista a figura destes meninos", referindo-se naturalmente aos
primeiros versos do famosíssimo cururu "O Menino da Porteira" (Teddy Vieira - Luizinho).
Yvo Raymundo, o Limeira, passou para o Oriente Eterno às 02:40 da manhã do dia 10/01/2010, no Hospital C. H. S. em Sorocaba-SP, vítima de septicemia, gangrena,
trombose arterial e falência múltipla dos órgãos. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Municipal do Cambará, na Cidade de São Roque-SP, onde residia.
Quero aqui agradecer ao Apreciador e "Garimpeiro"
Fábio Porangaba
que contribuiu de forma significativa para esse resumo biográfico e obteve inclusive a data correta de nascimento e falecimento do Yvo Raymundo, bem como uma
cópia da
Declaração de Óbito
do Músico!!!
Muito obrigado, mais uma vez, "Cumpadre" Fábio Porangaba!!!
Maikel é um excelente colaborador desse site, e me forneceu preciosíssimas fotos e informações importantíssimas, além do esclarecimento de várias dúvidas
que ocorreram durante a elaboração de diversos resumos biográficos! O resumo biográfico das
Primas Miranda e das Duplas
Mensageiro e Mexicano e
Nízio e Nézio,
por sinal, foi fornecido na íntegra por Maikel Monteiro!
O "Cumpadre" José Francisco da Silva (In Memoriam) também apresentou, durante vários anos, esse excelente Programa junto com o "Cumpadre" Maikel Monteiro...
Muito Obrigado, mais uma vez, "Cumpadres" Maikel e Zé Francisco!!! Parabéns por esse gesto que enriquece e ajuda cada vez mais e de forma brilhante a
Preservação da Memória Musical Brasileira!!
Essa viagem pela Música Caipira Raiz continua:
Clique aqui
e pegue o trem, que ele agora irá para
Pirassununga-SP e Bernardino de Campos-SP: conheça essa dupla cujos integrantes se conheceram
em 1956 por ocasião do Concurso de Violeiros do IV Centenário da Cidade de São Paulo-SP e que,
juntamente com o acordeonista Nardelli, foram agraciados com o Prêmio Roquete Pinto, dentre
outros. Dentre seus sucessos, destacam-se "Recordação" (Nenete - Goiá) e "Flor Do Campo"
(Nízio - Nenete), dentre muitas outras. Conheça um pouquinho da trajetória artística de
Nenete e Dorinho.