Vitório Cioffi, o Riachão, nasceu em 1934; Orlando Cioffi, o Riachinho, nasceu em 1937, ambos na Fazenda Quincas Dias do
fazendeiro Joaquim Dias, no municipio de Jimirim-MG, lugarejo anteriormente conhecido como Machadinho, hoje em dia, Poço Fundo.
Vitório e Orlando vieram de uma Família de bastante Riqueza Musical e Folclórica, com cinco irmãos cantadores: as duplas
"Riachão e Riachinho",
Moreno e Moreninho
(Pedro e João Cioffi) e também o Catireiro (Omero Cioffi) que, além de apresentar alguns programas regionais de TV, também
integrou a dupla "Batipé e Catireiro".
"Riachão e Riachinho" gravaram o primeiro disco 78 RPM no ano de 1955, na gravadora Colúmbia (Nº CB-10219), tendo no Lado A
a toada "Despedida" (Priminho - Nhô Zé) e, no Lado B, a moda de viola "Castigo de Santos Reis" (Moreninho - Roque José de
Almeida).
No mesmo ano, a dupla gravou o segundo disco 78 RPM, também na Colúmbia (Nº CB-10231), tendo no Lado A a moda de viola "Boi
Assombração" (Teddy Vieira - Zico) e, no Lado B, o cururu "Índio Paulistano" (Teddy Vieira - Lourival dos Santos - Piraci).
Em 1956, "Riachão e Riachinho" gravaram o terceiro disco 78 RPM, também na Colúmbia (Nº CB-10241), tendo no Lado A o hino
"Ave Maria" (Teddy Vieira - Aldny Faya) e, no Lado B, a moda de viola "Mutirão do Italiano" (Teddy Vieira - Aldny Faya).
No mesmo ano, a dupla gravou o quarto disco 78 RPM, também na Colúmbia (Nº CB-10276), tendo no Lado A a moda-catira
"Cuiabano Araçá" (Teddy Vieira - Mineiro) e, no Lado B, o cateretê "Catira da Ventania" (Riachão - Riachinho) (a Música
cujo trecho o Apreciador ouve ao acessar essa página).
A dupla lançou mais dois 78 RPM pela Colúmbia em 1957: o disco Nº CB-10330, tendo no Lado A a toada "A Sanfoneira"
(Teddy Vieira - Silvio de Toledo ) e, no Lado B, o cururu "Folião Conquistador" (Roque José de Almeida - Compadre Zé Tomé -
Osvaldo Aude), e o disco Nº CB-10341, tendo no Lado A a toada "A Vida do Aleijadinho" (Ado Benatti - Carijó - Sebastião
Pauletti) e, no Lado B, a moda de viola "Namoro de Hoje" (Riachinho - Roque José de Almeida - Emílio Gimenez).
E, após esses seis discos 78 RPM, a dupla, por motivos particulares, ficou algum tempo sem gravar, retornando ao disco em
Dezembro de 1963, com o lançamento do 78 RPM Nº CH-10388, pelo Selo Sertanejo, tendo no Lado A o relançamento da moda de
viola "Namoro de Hoje" (Riachinho - Roque José de Almeida - Emílio Gimenez) e, no Lado B, a valsinha "Mulher Honrada"
(Riachão - Riachinho - Mariano).
E, em Agosto de 1964, "Riachão e Riachinho" gravaram, também pelo Selo Sertanejo, o 78 RPM Nº CH-10426, tendo no Lado A o
relançamento da moda de viola "Mutirão do Italiano" (Teddy Vieira - Aldny Faya) e, no Lado B, o rasqueado "Meu amor"
(Riachão - Riachinho).
Ao que consta, a dupla "Riachão e Riachinho" gravou somente 16 Músicas, nesses oito discos 78 RPM. Merece destaque, no
entanto, o sucesso que eles fizeram também como Compositores, com a congada "Treze de Maio" (Teddy Vieira - Riachão -
Riachinho), que foi gravada pelos seus irmãos
Moreno e Moreninho
no Lado A do disco 78 RPM Nº CB-10294, na gravadora Colúmbia, em 1956.
De acordo com Ivone Cioffi, Filha do
Moreninho,
"... meu Tio Riachão me informou que vendeu a Letra da Música 'Treze de Maio' a
Teddy Vieira..."
Tal procedimento, infelizmente, foi e continua sendo bastante comum na História de nossa Boa Música Brasileira, não apenas na Música Caipira Raiz, mas
também na Fina Flor da MPB... Sabe-se, por exemplo, que "Divina Dama" (Cartola), o Mestre Cartola havia vendido ao Francisco Alves!!! E, na Música Caipira
Raiz, acredita-se que o
Índio Vago
tenha vendido "Mágoa de Boiadeiro" (Nonô Basílio - Índio Vago) ao
Nonô Basílio,
além de que Atílio Versutti também acabou vendendo "Fuscão Preto" (Jeca Mineiro - Atílio Versutti) ao
Jeca Mineiro...
No entanto, como tais fatos nunca são "devidamente confirmados", temos que "aceitar oficialmente" as informações que constam nos Discos como sendo os
Autores das respecivas Músicas...
Outro grande destaque nas Composições de "Riachão e Riachinho" é a belíssima "A Marca da Ferradura" (Lourival dos Santos - Riachão), gravada por
Tonico e Tinoco
e também por
Lourival dos Santos,
Miranda e João do Rio (em participação especial no CD "Caipirarte" de
Celia e Celma).
Eis abaixo a letra de "A Marca da Ferradura" (Lourival dos Santos - Riachão):
Vou contá o que aconteceu com um rico fazendeiro:
Um homem sem religião, o seu deus era o dinheiro,
Foi assim que ele disse, no meio dos companheiro:
- "Na Aparecida do Norte, que é a Terra dos Romeiro
Na Igreja entro à cavalo, neste meu burrão ligeiro,
Quem quiser fazer uma aposta, tenho muitos mil cruzeiro!"
Ele teve uma resposta, sem demora ali no meio
Dum velhinho religioso, que lhe deu este conselho: - "Na Aparecida do Norte, nós devemos ir de joelho!"
No coitado do velhinho, ele já surrou de reio - "Quero mostrar pra vocês que de nada não receio,
Saio daqui no meu burro, só no altar que eu apeio!"
Ele saiu de viagem, na Aparecida chegou,
Era de manhã cedinho quando a missa começou,
Chegando no pé da escada, o seu burrão refugou,
Sua espora sangradeira, sem piedade funcionou,
O burro foi judiado, mas na Igreja não entrou,
O que o dono não respeitava, seu burrão arrespeitou!
Esta cena verdadeira muita gente presenciou:
O burro deu um corcove, o seu dono ele matou,
O dinheiro compra tudo, mas a morte não comprou,
O arma do fazendeiro, com certeza não salvou,
Bem na porta da Igreja onde o burrão refugou,
A marca da ferradura lá na escada ficou.
Visitando Aparecida-SP, podemos ver a "Pedra Com A Marca Da Ferradura" e constatar o fato narrado, apesar de que a História é um pouco diferente do que
diz a letra da Música composta por Lourival dos Santos e Riachão, não desmerecendo, porém, o belíssimo Valor Poético e Musical da mesma.
"Em 1866, um fazendeiro não acreditava nos milagres de Nossa Senhora Aparecida e dizendo que entraria a cavalo na Igreja. Chegando um dia em Aparecida,
pensou em praticar tal façanha, mas a ferradura do cavalo cravou-se na pedra do primeiro degrau, na entrada da Igreja, de modo que o animal não podia mais
erguer as patas.
Reconhecendo seu erro, desce do cavalo, entra na Igreja de mãos postas e pede a Nossa Senhora Aparecida que o perdoe, passando a acreditar em seus
milagres e em seu grande poder."
Nas fotos abaixo (de 2005 em Aparecida-SP), a Pedra Com a Marca da Ferradura e a placa com o texto supra-citado:
E Riachinho gravou no ano de 2004 o CD "Sonho Realizado" pela Discos Chororó (foto da capa à direita), com regravações
de alguns sucessos de Riachão e Riachinho, tais como "Mutirão do Italiano" (Teddy Vieira - Aldny Faya) e "Meu amor"
(Riachão - Riachinho), além de clássicos da Música Caipira Raiz tais como "Chalana" (Mário Zan - Arlindo Pinto),
"Destinos Iguais" (Ariowaldo Pires - Laureano) e "Cabocla Tereza" (João Pacífico - Raul Torres).
Riachão também chegou a atuar como Humorista no programa de TV que era apresentado pelo Catireiro, programa que já contou
inclusive com a participação de "Morena e Moreninho", dupla formada por Ivone Cioffi e seu pai, o Moreninho (foto à direita),
dupla essa que reviveu a Memória Musical da inesquecível dupla
Moreno e Moreninho,
após o falecimento do Moreno, em 1995. E, Riachão, além de tio, é também Padrinho de Batismo de Ivone "Morena" Cioffi!
No momento em que elaborava esse resumo biográfico, Riachão residia em Poços de Caldas-MG, onde havia fundado a "Orquestra Paisagem do Sertão" composta por 16
Violeiros e da qual "Morena e Moreninho" também participaram em uma das apresentações que teve lugar no Coreto Central em Poços de Caldas-MG.
Orlando Cioffi, o Riachinho, já havia partido para o "Andar de Cima". Dos cinco irmãos, ainda permaneciam vivos e "na estrada" o Riachão e o Catireiro, já que o
Moreno
havia falecido no dia 14/12/1995 e o
Moreninho
havia falecido no dia 23/04/2008, pouco mais de um ano depois que eu o havia conhecido pessoalmente, em Campinas-SP.
Omero Cioffi, o Catireiro, faleceu no dia 17/10/2016, aos 76 anos de idade, no hospital Santa Lúcia, vítima de complicações oriundas de uma pneumonia...
E Vitório Cioffi, o Riachão, faleceu aos 90 anos de idade, no Hospital da Unimed, em Poços de Caldas-MG, no dia 21/08/2024, após ter lutado contra um cancer...
Moreno, Moreninho, Riachão, Riachinho e Catireiro: Recebam de Netinha e Ricardinho essa singela homenagem...
Quero agradecer também pela preciosíssima colaboração que foi enviada pela
Ivone Cioffi
que é Afilhada de Batismo do Riachão e também filha e parceira musical do Moreninho, tendo formado com ele a dupla "Morena e Moreninho",
que reviveu os sucessos e a Memória Musical da inesquecível Dupla
Moreno e Moreninho.
Muito obrigado, Ivone "Morena" Cioffi!!
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família de Violeiros, Catireiros e Fabricantes de Instrumentos de Cordas que tem como membros
os Reis da Catira
Vieira e Vieirinha
e seus primos que são os quatro irmãos que formam as excelentes duplas
Zico e Zeca e
Liu e Léu.